Folha de S. Paulo


Recessão técnica no Brasil é destaque na imprensa internacional

A notícia de que o Brasil entrou em recessão técnica repercutiu na imprensa internacional nesta sexta-feira (29).

Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre deste ano teve retração de 0,6% ante os três primeiros meses de 2014. Como o resultado do trimestre anterior foi revisto pelo instituto de alta de 0,2% para contração de 0,2%, o país estaria passando por um período de recessão técnica.

O jornal americano "The Wall Street Journal" destacou que a divulgação do resultado da economia no segundo trimestre foi um "golpe nas esperanças de reeleição da presidente Dilma Rousseff" antes das eleições. O jornal ressalta ainda que a recessão chega a "cinco semanas das eleições, com poucas evidências de que uma melhora estaria a caminho".

Também para a britânica BBC, a piora do PIB "fará estragos no governo da presidente Dilma Rousseff". Em reportagem publicada em sua versão online, a emissora destaca que, segundo as últimas pesquisas, a chefe de Estado perderia as eleições para a candidata Marina Silva (PSB). A reportagem afirma também que "a economia é cada vez mais vista como o ponto fraco da presidente".

Nesse contexto, o jornal "Financial Times" afirma que Dilma ainda é a favorita a ganhar nas urnas em outubro, mas vem sendo desafiada por Marina e Aécio Neves (PSDB). A publicação britânica afirma também que o país "tem flertado com a recessão numa série de trimestres em que o crescimento estava estagnado".

O jornal "La Nación" cita que a "indústria brasileira tem sido muito afetada pela situação econômica complicada da Argentina e pelas constantes barreiras comerciais [na relação entre os países]". O argentino cita que a taxa de inflação oficial (o IPCA) segue no teto da meta estabelecida, o desemprego está baixo e que o governo está confiante de que a economia irá se recuperar até o fim do ano.

Para a "Revista Forbes", o mercado financeiro do país ignorou a piora do PIB. "A especulação está movendo o mercado de capitais no Brasil. Certamente não pode ser os fundamentos econômicos".

A publicação afirma que os demais candidatos ao Planalto convenceram à presidente Dilma Rousseff de que mudanças na economia serão necessárias. "Nesse aspecto, o futuro parece mais claro do que o agora. Não importa quem vença [as eleições], haverá mudança na política econômica".

RECESSÃO?

Apesar do Brasil ter registrado a segunda contração consecutiva no resultado do PIB, tanto o IBGE quanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, recusam a utilização do termo.

Para Mantega, não se pode falar em recessão ao se considerar o cenário atual do país, em que os índices de desemprego estão baixos e a massa salarial segue crescendo.

"Não há parâmetros universalmente aceitos para definir o que é uma recessão. O segundo trimestre foi influenciado pelo primeiro e se houver uma revisão, você deixa de ter dois trimestres negativos", defende.

Para o IBGE, o resultado do primeiro trimestre de 2014 é considerado como estável, pois não foi registrada uma queda maior que 0,5%. O instituto também não descarta a possibilidade de revisar o resultado dos três primeiros meses do ano.

"Esse último trimestre, que o dado deu 0,6%, nós consideramos queda, mas a revisão do trimestre anterior, nós consideramos estabilidade", afirma Rebeca Pallis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.

Parte dos analistas discorda. Para Alexandre Alexandre de Ázara, economista-chefe do banco Modal, "não há dúvida" que o país vive uma recessão. "Não é profunda nem intensa como em 2009, mas é, sim, um processo recessivo."


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