Folha de S. Paulo


Google testa entregas por drones na Austrália

O X lab, a divisão experimental do Google, vem discretamente testando um serviço de entregas por aeronaves de pilotagem remota (drones), na Austrália, como parte de sua corrida contra a Amazon para colocar esse tipo de veículo em uso comercial.

O Project Wing, o codinome da iniciativa, é o mais recente exemplo de como as ambições do Google se estendem a bem mais que a Web, chegando ao mundo físico, por meio de carros autônomos, balões para estender o alcance da Internet e aparelhos vestíveis.

Depois de dois anos de experiências, o Google apontou Dave Vos, fundador da Athena Technologies, produtora de sistemas de controle para drones, como líder de uma equipe que pode levar o Project Wing "da pesquisa ao produto".

"Veículos de voo autônomo podem abrir abordagens inteiramente novas para o movimento de coisas - o que inclui opções mais rápidas, mais baratas, menos perdulárias e mais ambientalmente sensíveis do que a maneira pela qual fazemos esse tipo de trabalho hoje", afirmou o Google.

Google Inc./Bloomberg
O X lab vem testando serviço de entregas por aeronaves de pilotagem remota (drones)
O X lab vem testando serviço de entregas por aeronaves de pilotagem remota (drones) na Austrália

EXPERIÊNCIA

Mais de 30 voos de entrega bem sucedidos foram realizados em Queensland, Austrália, transportando um kit de primeiros socorros, uma garrafa de água e "petiscos para cachorros". O primeiro voo transportou barras de chocolate a uma distância de cerca de um quilômetro.

Os protótipos iniciais do Project Wing têm 1,5 metro de largura e 80 centímetros de altura, e apresentam uma combinação entre asa fixa e rotores para se manterem em voo. O veículo flutua a uma altura de entre 40 e 60 metros. O Google disse que a tecnologia apresenta alguma sobreposição com seus esforços para criar um carro sem motorista.

O Google comparou as entregas aéreas a outras inovações nos transportes como os navios a vapor e as ferrovias.

"Quando você pode receber alguma coisa quase instantaneamente, isso muda sua maneira de pensar a respeito dela", afirmou o Google, mencionando exemplos de entregas de emergência que aliviaram os problemas de cidade que viram bloqueados os seus acessos rodoviários.

No entanto, existem muitas barreiras regulatórias e técnicas a remover antes que a tecnologia dos drones possa ser empregada de maneira mais ampla no ambiente civil ou comercial.

REGRAS

A FAA (Administração Federal da Aviação, na sigla em inglês) dos Estados Unidos autorizou uso apenas limitado de drones no país, envolvendo alguns locais experimentais e um projeto comercial no Alasca. A agência até agora não divulgou suas muito aguardadas regras para o uso comercial da tecnologia.

A despeito disso, o Google conduziu alguns "pequenos" testes nos Estados Unidos, disse um porta-voz da companhia, sobre os quais a FAA foi informada com antecedência, trabalhando em colaboração com o Centro Ames, da Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, na sigla em inglês), uma base aérea próxima à sede do Google no Vale do Silício.

O Google afirmou que o foco para o próximo ano de trabalho no projeto será a segurança, o que inclui tecnologia de "detecção e escape" para garantir que os drones não colidam uns com os outros, e navegação precisa, para fazer entregas "em um lugar específico do tamanho de uma porta".

A Amazon informou em dezembro que esperava entregar pacotes às casas de seus clientes usando drones dentro de no máximo cinco anos, por meio de um esquema chamado "Prime Air". O Google não diz se acreditava que chegaria ao mercado primeiro que a Amazon, se limitando a afirmar que "vamos demorar ainda alguns anos para aprontar o sistema".

Além do Google e da Amazon, diversas empresas iniciantes de drones estão explorando o uso comercial de veículos aéreos não tripulados. A 3D Robotics, que vende kits para a montagem de drones, recebeu US$ 30 milhões em capital para empreendimentos no ano passado, e em junho a Airware, que está desenvolvendo software de autopilotagem, obteve US$ 25 milhões em capitalização.

BRASIL

Em um condomínio fechado em São Carlos (232 km de São Paulo), o empresário Tom Ricetti, 38, criador da franquia Pão To Go, testa drones para entregar os produtos nas casas dos clientes.

O drone, que custa R$ 6.000 e pode suportar 3,5 kg de carga para fazer entregas num raio de 1 km da unidade, faz teste para entregar pão, entre outros produtos, na casa dos consumidores.

Para funcionar, o serviço ainda aguarda uma regulamentação do uso desses equipamentos pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o que deve ocorrer até o fim do ano.

Hoje, a utilização civil dos drones é considerada irregular, mas permitida para pesquisa e desenvolvimento, treinamento de tripulações e pesquisa de mercado, mediante autorização.

A ideia de Ricetti é disponibilizar a opção do drone para os franqueados. A Pão To Go tem oito unidades funcionando e fechou 112 contratos para a abertura de novas lojas, em cidades como Fortaleza, Manaus e Vitória, e no exterior, nos EUA e Argentina.

Divulgação
Drone usado pela Pão To Go para fazer entregas em São Carlos (SP)
Drone usado pela Pão To Go para fazer entregas em São Carlos (SP)

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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