Folha de S. Paulo


Vivendi desiste da Telecom Italia e negociará GVT só com a Telefónica

A francesa Vivendi informou nesta quinta-feira (28) que vai entrar em negociações exclusivas com a Telefónica para a venda de sua unidade brasileira de banda larga GVT, escolhendo a oferta da espanhola em detrimento da proposta da rival Telecom Italia.

"A oferta da Telefónica se ajusta melhor aos objetivos estratégicos e financeiros do grupo", disse a companhia em comunicado.

A proposta da Telefónica –que no Brasil controla a Telefônica e a Vivo– era válida até esta sexta (29). Com a decisão da companhia francesa de negociar exclusivamente a venda da GVT com a espanhola, o prazo para considerar a proposta é ampliado em até três meses.

A Telefónica informou mais cedo nesta quinta que elevou uma oferta inicial de € 6,7 bilhões pela GVT para € 7,45 bilhões, aumentando para € 4,66 bilhões a parte do acordo a ser paga em dinheiro.

Além disso, a Telefónica também oferece à Vivendi uma participação de 12% na companhia após a compra da GVT.

A Vivendi ainda pode optar por trocar cerca de um terço desses papéis por uma participação de 5,7% na Telecom Italia –dona da TIM, e da qual a Telefónica é a maior acionista– se assim desejar.

DISPUTA

Com a decisão, a Vivendi rejeita a proposta da Telecom Italia, que havia oferecido € 7 bilhões (R$ 21 bilhões) distribuídos em dinheiro e ações para comprar a GVT.

O lance da italiana previa que a Vivendi ficasse com 15% da TIM após a fusão com a GVT (a Telecom Italia manteria uma fatia de cerca de 60%), além de 20% das ações ordinárias, que dão direito a voto, da Telecom Italia.

A proposta envolvia o pagamento de 24% do valor em dinheiro e o restante (76%) em ações.

Se aceitasse, a Vivendi se tornaria acionista da Telecom Italia. E, neste caso, o grupo italiano permitiria que a francesa indicasse dois integrantes para expandir os conselhos de administração da TIM e da Telecom Italia.

A GVT, criada há 14 anos oferecendo telefonia fixa e internet ultrarrápida, foi disputada em 2009 entre a Telefónica e a Vivendi. Os franceses adquiriram o controle da empresa por R$ 7,7 bilhões.

Naquele momento, a GVT cobria 84 cidades e detinha 2% das receitas líquidas do setor. Hoje, ela atua em 153 cidades com pacotes de telefonia fixa, internet acima de 15 Mbps e TV e conta com 1,5 milhão de clientes.

REGULAÇÃO

Caso o grupo francês decida vender a GVT à Telefónica, a operação ainda terá de ser aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

Se a Vivendi aceitar a proposta da Telefónica, se tornará sócia da Vivo (controlada pela espanhola) e poderá aceitar um pedaço da Telecom Italia (dona da TIM) que pertence aos espanhóis como parte do pagamento. Como receberá parte em dinheiro, poderá adquirir o restante da participação da Telefónica na Telecom Italia.

Isso resolveria o problema da Telefónica com o Cade, mas deixaria a Vivendi com fatia em Vivo e TIM -e acenderia a luz amarela no órgão de defesa da concorrência.

Por outro lado, o acordo pode representar um passo importante para a saída da Telefónica da Telecom Italia, uma das imposições feitas pelo Cade em 2013. O objetivo seria evitar conflitos de interesse e garantir a concorrência, já que os espanhóis controlam a líder Vivo e possuem, indiretamente, uma participação de 10% na TIM.

TIM

A venda da GVT não é o único acerto que irá modificar o mercado de telecomunicações no Brasil.

Nesta quarta, o banco BTG Pactual deu o primeiro passo para comprar a TIM e fatiá-la entre suas três concorrentes: Vivo, Claro e Oi.

A instituição financeira prepara uma oferta para comprar a participação de 67% da Telecom Italia na segunda maior operadora do Brasil. O valor dos papéis da italiana na companhia têm valor de mercado equivalente a R$ 18,5 bilhões.

Caso os italianos recebam a proposta e decidam aceitá-la, a operação dará maior fôlego à Telecom Italia para continuar investindo. Ao final do primeiro semestre deste ano, o grupo italiano acumulava € 37,4 bilhões em passivos financeiros de curto e longo prazo.

Neste caso, a TIM deverá ser fatiada para cumprir restrições legais no Brasil. Uma delas impede que a mesma operadora tenha duas licenças para atuar na mesma localidade, enquanto outra estabelece um teto de frequência, que seria estourado se a TIM fosse incorporada a apenas uma de suas concorrentes.

Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress

Endereço da página:

Links no texto: