Folha de S. Paulo


Gigantes como Google e Facebook dispensam conselhos de bancos

Está se tornando cada vez mais rara, no Vale do Silício, polo tecnológico americano, a presença de bancos de investimento auxiliando empresas a comprarem outras.

Companhias como o Google, o Facebook e a Cisco estão criando equipes internas para identificar alvos e para negociar os termos do contrato, em vez de confiar nos enviados de Wall Street.

Os bancos de investimento estão sendo chutados mesmo nas grandes compras, em que a presença de especialistas do mercado financeiro poderia ser mais útil para estruturar a operação.

Em 2014, 69% das aquisições de empresas no setor de tecnologia nos EUA no valor de mais de US$ 100 milhões não tiveram a participação dos bancos. Há dez anos, esse valor era de apenas 27%.

Justin Sullivan/Getty Images/AFP
O fundador do Google Larry Page, em evento na Califórnia
O fundador do Google Larry Page, em evento na Califórnia

Uma explicação para isso é que as grandes empresas do Vale têm valorizado menos as características que os analistas dos bancos mais consideram, como vendas, fluxo de caixa e lucratividade.

"Banqueiros são bons para avaliar finanças e para negociar", diz Richard Climan, advogado que trabalha com compras em que não há bancos envolvidos. "Mas há essa sensação no Vale de que essas avaliações não são tão importantes no caso de companhias de tecnologia nascentes."

A compra do WhatsApp -uma empresa com uma equipe pequena e com um faturamento minúsculo- pelo Facebook, por US$ 19 bilhões, por exemplo, horrorizaria qualquer analista que estivesse utilizando métodos tradicionais para avaliar uma empresa.

Os defensores da ausência dos banqueiros dizem que o mais importante é analisar a cultura e a visão de quem se está incorporando.

Nas palavras de Sanjay Kacholiya, diretor da Eventbrite, uma start-up de ingressos, "é mais uma arte do que uma ciência, e banqueiros têm dificuldades para entender isso".

Quando quer comprar uma empresa, o presidente do Google, Larry Page, por exemplo, é conhecido por, em vez de privilegiar dados das planilhas, perguntar aos seus donos coisas como "diga algo que você usa todo dia e que melhora sua vida". (Escova de dentes é uma resposta vista como sagaz, diz quem o conhece.)

Foi assim, sem banqueiros, que o Google comprou o aplicativo de trânsito Waze por US$ 1 bilhão no ano passado. Do mesmo modo, a Apple comprou a Beats, de headphones, por US$ 3 bilhões; o Facebook comprou a Oculus VR, de equipamentos para videogames, por US$ 2,3 bilhões; e a Microsoft comprou o Skype por US$ 8,5 bilhões.

Talvez seja muito dinheiro por empresas de futuro incerto, diria um banco de investimentos, que poderia relembrar as compras da empresa de jogos Slide pelo Google (US$ 228 milhões) e da empresa de vídeos Flip pela Cisco (US$ 590 milhões), que se revelaram jogar dinheiro fora.

As empresas de tecnologia, por outro lado, dizem que economizam ao não pagar comissão aos bancos. A Cisco, por exemplo, que já comprou mais de 170 empresas, decidiu que era melhor contratar seus próprios analistas.

"Temos uma talentosa equipe própria", diz Hilton Romanski, diretor de desenvolvimento, um ex-JPMorgan.


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