Folha de S. Paulo


Serviços crescem 5,7% em junho, menor taxa desde janeiro de 2012

Apesar de um esperado efeito positivo em razão da Copa, o setor de serviços não registrou bom desempenho em junho, mês que teve início o Mundial.

O crescimento foi de 5,7% frente a junho de 2013. Trata-se da menor marca da série histórica do IBGE, iniciada em janeiro de 2012.

Os números divulgados nesta terça-feira (19) mostram o chamado faturamento nominal do setor, que não considera a evolução da inflação –o que dificulta a análise do real desempenho do serviços, já que não considera a variação dos preços de cada segmento do setor, o de maior peso na economia.

Os dados do IBGE de junho sinalizam que o efeito da Copa pesou negativamente para o setor por conta do menor número de dias úteis. É que os serviços atendem a outros ramos, especialmente à indústria, que parou parcialmente suas linhas de produção em dias de jogos.

Outra hipótese, dizem analistas, é que nesses dias de jogos as pessoas também não procuraram alguns serviços, como médicos, dentistas e cabeleireiros.

Por fim, muitas empresas também dispensaram mais cedo seus trabalhadores em dias de jogos do Brasil ou em feriados nas cidades-sede.

"O que podemos dizer é que nesse mês [junho] o transporte foi afetado pelo grande número de feriados e dias parados, que reduziu a demanda pelo transporte de cargas. Já os serviços de alimentação e alojamento e audiovisuais e de notícias foram beneficiados pelo evento da Copa do Mundo", disse Roberto Saldanha, técnico do IBGE.

Já Fábio Bentes, da CNC (Confederação Nacional do Comércio), ressalta que o fraco crescimento nominal do faturamento em junho corresponde, na verdade, na maior queda da série histórica da pesquisa, se considerada a inflação –o que o IBGE não faz. O economista estima uma queda real de 3,5% no mês na comparação com junho de 2013.

Havia a expectativa que o setor, durante o Mundial, tivesse seu desempenho turbinado pela presença de turistas, com a movimentação acima do normal em bares, restaurantes, hotéis e todo o setor de turismo, além dos transportes, pelo deslocamento entre as cidades-sede.

Com o resultado de junho, o setor acumulou alta de 7,4% de janeiro a junho e 8% em 12 meses. Foram também os menores índices da série histórica do IBGE para tais períodos.

Em maio, os serviços haviam registrado expansão de 6,6% na comparação com abril –mês no qual alta fora de de 6,2%. Os dois índices já haviam sido os mais baixos nos 12 meses anteriores de cada um deles.

Naquele mês, o pequeno avanço frente a abril ocorreu por conta da alta de serviços prestados às famílias (inclui turismo e alimentação) e transporte, setor impulsionado pelo ramo aviação –já num primeiro sinal de impacto da Copa, com a antecipação da compra de passagens aéreas.

Davi Ribeiro - 25.jun.2014/Folhapress
Restaurante em São Paulo com pouco movimento durante jogo da Copa do Mundo
Restaurante em São Paulo com pouco movimento durante jogo da Copa do Mundo

SETORES

O ramo que mais perdeu ritmo em junho foi o de transportes, o de maior peso na pesquisa do IBGE. O crescimento foi de 4,6% em junho, abaixo dos 7,5% em maio. O segmento é o mais ligado à indústria e ao comércio, que demandaram menos transportes de cargas diante do menor número de dias úteis em razão da Copa.

O mesmo motivo pode explicar a freada da categoria de serviços profissionais, administrativos e complementares (consultorias, serviços terceirizados e profissionais liberais). O crescimento de 7,8% em maio desacelerou para 7,3% em junho.

Por outro lado, o melhor desempenho ficou com o de serviços prestados às famílias, que inclui alimentação fora de casa, bares, hotelaria, turismo e outros. A alta foi de 11,2%. Esse segmento foi um dos poucos beneficiados pela Copa do Mundo.

Apesar do resultado, enquanto bares ficam lotados, proprietários e gerentes de restaurantes reclamaram do baixo movimento durante o Mundial em seus estabelecimentos, que chega a ser inferior ao de antes do evento.

Reportagem publicada pela Folha no dia 1º de julho mostra que a Abrasel-SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) já esperava que restaurantes não lucrariam tanto quanto os bares -que registravam 80% de alta no faturamento durante os jogos do Brasil, de acordo com os números da entidade.

Já para a ANR (Associação Nacional dos Restaurantes), houve um equilíbrio, com aumento de movimento um dia antes nas cidades que sediam os jogos.

Ainda houve aumento expressivo na categoria de alojamento e alimentação, cuja expansão foi de 12,1%, acima dos 11,8% de maio (quando já havia uma antecipação de reservas de hotéis para o Mundial, por exemplo) e dos 10,8% de abril.

Os dados mostram ainda que houve uma antecipação da compra de passagens em abril e maio, quando o segmento de transporte aéreo havia crescido 18,3% e 16,5%. Em junho, quando os preços dos bilhetes subiram 21,95%, houve uma forte desaceleração, com alta de só 4,5% para o segmento.

Outro ramo que pode ter sido impulsionado pelo Mundial foi o de serviços de informação e comunicação, cujo crescimento passou de 4,4% em maio para 5,7% em junho. Um dos principais destaques ficou com a categoria de serviços audiovisuais, de edição e agências de notícias, com expansão de 22,8% em junho graças à cobertura do evento esportivo.


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