Folha de S. Paulo


Em nova rodada de baixa, mercado reduz previsão do PIB para 0,79%

Em mais uma rodada de baixa, o mercado reduziu pela 12ª semana ininterrupta a previsão para o crescimento da economia brasileira neste ano.

A nova estimativa dos analistas é de 0,79%, segundo o Boletim Focus do Banco Central divulgado nesta segunda-feira (18). Na semana passada, a previsão era de 0,81%.

A queda vem na sequência da divulgação, na última sexta-feira (15), de redução de 1,48% no Índice de Atividade Econômica do Banco Central em junho.

Com o resultado do mês, o IBC-Br fechou o segundo trimestre com queda de 1,20% e indicando que a economia brasileira pode ter entrado em recessão no primeiro semestre. No primeiro trimestre, o índice recuou 0,02% em relação aos três meses anteriores –número revisado; anteriormente, havia sido informado alta de 0,03% para o período.

Ao mostrar dois semestres seguidos de contração, a economia entra em recessão técnica.

A leitura feita pelo mercado foi a de que o resultado do IBC-Br reforça a expectativa de queda do PIB no segundo trimestre, levando a revisões para o período e para o ano fechado. Para 2015, foi mantida a expectativa de avanço de 1,2% para a economia brasileira.

O indicador já foi considerado uma "prévia" do PIB (Produto Interno Bruto), mas deixou de ser usado desta forma, já que os resultados podem não ser próximos aos do IBGE. O governo, contudo, discorda da interpretação, já que as metodologias usadas pela autoridade monetária e pelo instituto são diferentes e os números podem divergir. O resultado oficial do PIB será divulgado no dia 29 de agosto pelo IBGE.

INDÚSTRIA E SELIC

O mercado também vê um quadro pior para a produção industrial neste ano, de queda de 1,76% em vez de baixa de 1,53%, indicada na leitura da semana passada. Para o ano que vem, a estimativa para a indústria segue inalterada, em alta de 1,70%.

Após algumas semanas de leitura inalterada, os economistas passaram a ver a taxa básica de juros (Selic) a 11,75% em 2015, contra 12% na pesquisa anterior, ao mesmo tempo em que mantiveram o cenário de que ela encerrará este ano a 11%.

Em relação à inflação, ajustaram a projeção de alta do IPCA neste ano a 6,25%, ante 6,26% anteriormente, e mantiveram as contas em 6,25% para 2015.

ECONOMIA FRACA

O mercado vê perda de força na economia brasileira no segundo trimestre, já sinalizada pelos resultados do varejo e da indústria que, respectivamente, recuaram 2% e 0,6% sobre o primeiro trimestre.

O cenário deste ano, em que a presidente Dilma Rousseff busca a reeleição, também envolve inflação e juros elevados, além de baixa confiança dos agentes econômicos.

A corrida eleitoral vem fazendo com que empresários represem investimentos à espera da decisão sobre o perfil do novo governo.

Além disso, a realização da Copa do Mundo fez com que número de dias úteis em junho fosse menor. Os dois fatores influenciaram a queda na atividade econômica, segundo a consultoria econômica Tendências.

Os analistas ainda esperam que a economia continue fraca até o final de 2018.

INFLAÇÃO

Em entrevista ao programa Poder e Política, da Folha e do UOL, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo da presidente Dilma Rousseff seguirá sua "política gradualista" de combate à inflação e explicou por que considera este o melhor caminho, sem opção por uma "política heroica" ou um "tratamento de choque".

Em tom crítico e de condenação, durante entrevista Mantega disse que seria fácil reduzir a inflação rapidamente no Brasil: "É só colocar uma bala de canhão: chuta o juro para cima, a economia vai definhar, você vai ter recessão. Aí sim você vai ter uma inflação baixa. Mas aí é a paz do cemitério".

O ministro disse que será possível levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, em 2018 (último ano do mandato do próximo presidente). E promete uma novidade, já defendida por economistas de oposição: num eventual segundo mandato petista no Planalto, o ministro acha possível estreitar a banda de flutuação da meta de inflação.

Hoje, a faixa de tolerância é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Como o centro da meta que é de 4,5%, são aceitas taxas anuais que vão de 2,5% (o piso) a 6,5% (o teto).

Economistas ouvidos pela Folha, porém, afirmam que a declaração do ministro não contribui para a recuperação da credibilidade do governo.

"Ele tenta resgatar a confiança. O problema é que vem dizendo o mesmo há quatro anos", diz Mônica de Bolle, sócia da Galanto Consultoria.

A opinião é compartilhada por Alexandre Schwartsman, colunista da Folha e professor do Insper. "Um ajuste gradual é possível, mas ouvimos a mesma história desde 2010, o que a torna menos crível."

Os economistas Luiz Calado, vice-presidente do Ibef (Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças), e André Perfeito apostam em um cenário econômico melhor no próximo ano.

Calado afirma que a melhora da economia global contribuirá para isso. Perfeito, que é economista-chefe da Gradual Investimentos, acredita que parte do ajuste já vem sendo feito pelo atual governo. Mas ressalta que o processo terá de continuar na próxima gestão.

Com agências de notícias


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