Folha de S. Paulo


Para ministro da fazenda, Copa derrubou PIB do 1° semestre

O governo não admite que a economia possa ter registrado uma recessão técnica (dois trimestres seguidos de contração da economia) no primeiro semestre de 2014.

Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, define o crescimento do período como "pequeno" e "moderado" —e joga parte da responsabilidade sobre a Copa do Mundo.

"[A Copa] foi um sucesso do ponto de vista de organização. Do ponto de vista da produção e do comércio, prejudicou", avaliou Mantega em entrevista à Folha e ao UOL, na quinta-feira (14).

"[Durante o evento] tivemos muito poucos dias úteis. A produção industrial caiu e o comércio cresceu pouco (...). De fato, não foi um bom resultado", afirmou.

Para ele, o segundo semestre será melhor.

De posse de uma tabela, citou vários dados positivos para o mês de julho: "A produção de automóveis cresceu 10%, o fluxo de veículos pesados nas estradas cresceu 3,2%, a venda de material de construção, 22%".

SEM BOLA DE CRISTAL

O ministro da Fazenda, no entanto, evita fazer previsões sobre o crescimento do ano.

O Banco Central aponta para 1,6%. Entre os analistas de instituições privadas e públicas, o percentual fica abaixo de 1%. Na mais recente pesquisa semanal Focus, em que o BC reúne projeções de cerca de cem analistas, a expectativa para 2014 era de 0,81%.

"Não sei. Não arrisco", diz Mantega, adotando uma atitude diferente do passado, quando costumava fazer previsões otimistas, que nem sempre se confirmavam.

Em relação às expectativas de que o governo não conseguirá cumprir a meta de economizar 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto), o que já é admitido reservadamente por parte de sua equipe, o ministro concede que este "é um ano mais difícil".

Mas insiste que continuará perseguindo o cumprimento da economia prometida para reduzir a dívida pública -o chamado superávit fiscal.

Durante a entrevista, o ministro demonstrou insatisfação com duas críticas recentes. Uma, do atual presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Benjamin Steinbruch, que afirmou que só "louco" investe no Brasil atualmente.

"Ele está redondamente equivocado", disse Mantega, citando números de investimentos estrangeiros no país.

A outra crítica foi do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga (governo FHC), de que o governo Dilma está segurando artificialmente o preço do câmbio, numa espécie de populismo cambial.

"Ele está redondamente enganado", retrucou, alfinetando o hoje principal economista aliado ao candidato a presidente pelo PSDB, Aécio Neves, ao dizer que "artificialismo" ocorreu no governo FHC. "Não seguramos inflação no câmbio; quem fez isso foram governos anteriores."


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