Folha de S. Paulo


Montadoras apostam em pacote de estímulo do BC

Apesar da queda de 20% na produção de veículos no Brasil em julho, em comparação com o mesmo período do ano passado, a indústria automotiva acredita que o segundo semestre será de retomada.

O principal motivo para otimismo foram as medidas anunciadas pelo Banco Central para aumentar a oferta de crédito e estimular a economia brasileira. A instituição irá recolher R$ 45 bilhões dos chamados recolhimentos compulsórios dos bancos para aumentar o crédito no mercado.

"Apesar de não ser dirigida ao setor automotivo, acreditamos que seremos beneficiados pela melhora da economia como um todo", afirmou Luiz Moan, presidente da Anfavea (associação nacional dos fabricantes) durante coletiva de imprensa na quarta-feira (6). "Esperamos a retomada do mercado com os R$ 45 bilhões que devem ser injetados pelo Banco Central", disse Moan.

"Houve um clima de pessimismo exagerado no país no primeiro semestre, o que quebrou a confiança do nosso consumidor, fazendo nossas vendas caírem bastante. Ainda prevemos queda para o ano, mas teremos um segundo semestre melhor do que o primeiro", afirmou o presidente da Anfavea.

A previsão da Anfavea é que a produção caia 10% no ano de 2014 em relação a 2013.

JULHO

Segundo a associação, durante o mês de julho foram produzidos 252,6 mil veículos no Brasil, contra 317,9 mil no mesmo período do ano passado.

Em relação a junho, a produção e as vendas melhoraram. Foram produzidos 17% a mais de veículos no país em relação ao mês passado, quando foram montados 215,9 mil veículos leves, caminhões e ônibus no Brasil.

Os emplacamentos também aumentaram 11,8% em relação a junho. O final da Copa do Mundo é considerado como um dos motivos pelo aquecimento do mercado no mês passado.

Nos primeiros quinze dias de julho, foram vendidos diariamente 11,5 mil veículos, em média. Na segunda quinzena do mês, foram emplacados 13,7 mil veículos por dia. A final do Mundial aconteceu em 13 de julho.

CRÉDITO

Outro fator de otimismo para as montadoras é um possível aumento na concessão de crédito pelos bancos para financiamento de veículos. A seletividade do crédito pelas instituições bancárias é considerada pelo setor como uma das principais culpadas pela forte desaceleração do mercado em 2014.

"O índice de inadimplência deve cair para abaixo dos 4% até o final do ano, depois de bater 7,6% no ano passado. Concordamos com as restrições severas ao crédito que os bancos tomaram depois de 2010, mas acreditamos que chegou a hora de estimular os financiamentos", afirmou o presidente da associação nacional dos fabricantes.

ARGENTINA

As exportações de veículos caíram 36,7%, em relação a julho do ano passado. No acumulado entre janeiro e julho, a queda é de 35,4% em relação aos primeiros seis meses de 2013.

As restrições de importação e crise na economia argentina, que compra cerca de 75% dos veículos exportados pelo Brasil, são consideradas como as grandes responsáveis pela retração do índice. Mas o setor acredita que o número deve melhorar nos próximos meses, apesar da crise da dívida da Argentina.

Com a queda nas restrições nas exportações e o acordo firmado entre os países, que entrou em vigor em 1º de julho, a expectativa é de aquecimento nas vendas para o exterior. "No setor automotivo, os dois países são integrados. Não sofreremos os efeitos, a não ser aqueles referentes ao mercado argentino como um todo. Se o mercado reagir, exportaremos mais", afirmou Moan.

Apesar na dependência nas exportações, a integração do setor automotivo brasileiro com o da Argentina é considerada como um fator positivo pela indústria.

Segundo o presidente da Anfavea, brasileiros e argentinos ficam mais fortes em negociações conjuntas com outros mercados. De acordo com o executivo, acordos de exportação de veículos para a União Europeia e países africanos estão sendo negociados.

EMPREGOS

A crise no mercado de veículos também atingiu os empregos no setor, que caíram 4,2% em julho, em relação ao mesmo período do ano passado.

Em relação a junho, também houve queda, de 0,8%. O ajustamento de produção, causado pelo aumento dos estoques, é considerado o principal responsável pela queda nas vagas.

O estoque das montadoras está em 39 dias, número considerado "inadequado para o setor" pelo presidente da Anfavea.

Nos últimos meses, diversas montadoras implementaram programas de "lay-off" (suspensão temporária do contrato de trabalho) em suas fábricas, na tentativa de adequar a produção à demanda do mercado.

Segundo Luiz Moan, os programas de suspensão temporária de contrato devem ser encarados como uma forma de preservar os postos de trabalho nas fábricas.

"A adoção do lay-off é uma expectativa de que o mercado volte à normalidade. Iremos sempre tentar preservar os empregos", afirmou o presidente da Anfavea.

Colaborou GABRIEL GARCIA, de São Paulo


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