Folha de S. Paulo


Produção de carros tem pior julho desde 2006 e recua 17,4% no ano

A produção de veículos no Brasil caiu 20,5% em julho, em relação ao mesmo período de 2013, e somou 252,6 mil automóveis, segundo a Anfavea (associação de montadoras).

Esse foi o pior resultado para o mês desde 2006, quando foram produzidos 202,9 mil automóveis.

A indústria se recuperou em relação ao mês de junho, produzindo 17% de veículos a mais do que em relação ao mês, mas não o suficiente para reverter o quadro do ano.

No acumulado de janeiro a julho, a produção soma 1,82 milhão de veículos, queda de 17,4% sobre um ano antes.

As exportações também caíram 36,7%, em relação a julho do ano passado. No acumulado entre janeiro e julho, a queda nas vendas para o exterior é de 35,4% em relação aos primeiros sete meses de 2013.

As vendas para fora foram agravadas pela piora do cenário econômico na Argentina, que importa grande parte dos veículos exportados pelo Brasil.

AQUECIMENTO

O final da Copa é apontado como um dos motivos para o aquecimento do mercado no mês passado, na comparação com junho. Nos primeiros quinze dias do mês, foram vendidos em média 11.500 veículos por dia. Na segunda quinzena, foram vendidos em média 13.700 veículos diariamente no país.

As vendas também melhoraram no mês de julho. O setor vendeu 11,8% a mais do que em junho, totalizando 294.768 emplacamentos. Mas, em comparação a julho do ano passado, o número é 13,9% menor.

O estoque de veículos diminuiu em relação ao mês de junho, passando para 39 dias. No mês anterior, eram 45 dias. Mas o presidente da Anfavea, Luiz Moan, considera que o número ainda é "inadequado para o setor".

A previsão do setor para 2014 é que a produção caia 10% em relação a 2013. Para as exportações, a previsão é de queda de 29,1%.

"Em função do maior número de dias úteis nesse segundo semestre e por acharmos que o mercado ficará mais comprador, acreditamos que teremos crescimento em todas as linhas", afirma Moan.

"Houve um clima de pessimismo exagerado no país no primeiro semestre, o que quebrou a confiança do nosso consumidor, fazendo as vendas caírem bastante. Ainda prevemos queda para o ano, mas teremos um segundo semestre melhor do que o primeiro", diz o presidente da Anfavea.

Editoria de Arte/Folhapress

O setor acredita que o pacote de estimulo ao crédito, anunciado pelo Banco Central em julho, também irá aquecer as vendas de veículos. "Apesar da medida não ser dirigida diretamente ao setor automotivo, acreditamos que seremos beneficiados pela melhora da economia como um todo", afirma Luiz Moan.

LAY-OFF

Com o resultado ainda ruim no ano, algumas das principais montadoras de automóveis do país preparam novas rodadas de afastamento de funcionários.

A Fiat vai conceder férias coletivas entre 11 e 20 de agosto, quando produzirá cerca de 10 mil veículos a menos. A Ford vai adotar a mesma medida, principalmente na fábrica de Taubaté, no interior paulista.

A General Motors já avisou aos sindicatos que haverá suspensão temporária de contrato de trabalho (lay-off) na unidade de São José dos Campos (SP).

Um dos principais sindicatos do setor, o Sindipeças, já distribui panfletos nas fábricas, para lembrar aos trabalhadores os direitos em casos de afastamento temporário.

De acordo com o presidente da Anfavea, não acontecerão outras medidas de ajustamento de produção além de férias coletivas ou suspensão temporária do contrato de trabalho dos empregados das fábricas. "A adoção do lay-off é uma expectativa do setor de que o mercado voltará à normalidade. Iremos tentar sempre preservar os empregos", diz Luiz Moan.

MAIS SETORES

O resultado ruim do setor em 2014 tem contribuído para derrubar a produção industrial brasileira, que em junho encolheu pelo quarto mês seguido, segundo o IBGE.

Como a cadeia de veículos é grande, ela acaba afetando o resultado de outros setores, com grande impacto sobre a produção nacional.

Em junho, a produção industrial brasileira caiu 6,9% em comparação com junho do ano passado, no pior resultado desde setembro de 2009, quando fechou em -7,4%. Em relação a maio, o setor encolheu 1,4%, o pior resultado desde março.

Dos 2,6% de queda acumulada na indústria em 2014, 1,9 ponto percentual, ou quase 75% desse mau resultado, vem da produção de veículos, que sofre pesadamente o encolhimento do país vizinho.

A exportação de veículos brasileiros para a Argentina caiu 36% entre janeiro e julho, de acordo com o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Muito sensível aos juros e ao crédito, o setor de bens duráveis (que inclui automóveis e eletrodomésticos) recuou 24,5% em relação a maio e 34,3 % sobre junho de 2013. Com o impasse da dívida argentina, a tendência é que a indústria continue sofrendo.

Colaborou GABRIEL GARCIA, de São Paulo
p(tagline). Com reportagem do RIO


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