Folha de S. Paulo


É difícil impedir recessão, diz Belluzzo

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e um dos conselheiros da presidente Dilma Rousseff na área econômica, afirmou nesta segunda-feira (4) que a economia brasileira está no caminho de uma recessão.

"Será muito difícil impedir pelo menos um trimestre de recessão. A economia está realmente resvalando para uma recessão ou para um crescimento extremamente baixo."

Para Belluzzo, os próximos dois anos serão "difíceis": "A gente não pode se enganar".

O próximo governo, disse ele, terá que resolver duas "encrencas", que são reajustar o preço da gasolina e deixar o dólar subir.

O problema é que esses dois movimentos têm impacto relevante na inflação, que já está elevada e perto do limite fixado pelo governo para o fim do ano, que é 6,5%.

Segundo ele, a solução apregoada no mercado financeiro pressupõe o aumento do desemprego. Isso teria impacto sobre a população que teve ganhos econômicos recentes, a chamada nova classe média.

Leticia Moreira/Folhapress
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e um dos conselheiros da presidente Dilma Rousseff
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e conselheiro da presidente

"A gente tem que olhar com cuidado essa discussão do que será feito a respeito da inflação. Porque você criou um grupo de pessoas e se você desmonta essa ascensão, vai ser complicado suportar as consequências sociais disso", disse. "O próximo presidente vai ter que conviver com essa questão".

Como consequência dessa limitação social, Belluzzo prevê que o novo presidente terá que conviver com uma inflação ainda distante da meta, que é 4,5% no ano.

"A ideia de que vai colocar a inflação a todo o custo na meta, a custa do desemprego, não vai encontrar acolhida, sobretudo entre aqueles que ascenderam na escala social nos últimos anos."

O economista afirmou que tanto o reajuste da gasolina quanto a alta do dólar são necessários para resolver problemas econômicos "sérios".

Nas sua avaliação, o setor do etanol foi objeto de um "erro de política econômica". Com a contenção do preço da gasolina, para controlar a inflação, o combustível derivado da cana ficou menos vantajoso para o consumidor. Isso provocou uma crise no setor, com o fechamento de usinas que processam etanol.

Por isso, ele disse esperar que o próximo governo corrija o preço da gasolina, o que também ajudaria a destravar os investimentos da Petrobras.

Já a alta do dólar atenderia ao setor industrial, cuja crise a seu ver deriva da valorização excessiva do real frente ao dólar, o que afetou a capacidade de competir das fábricas brasileiras tanto no país quanto no exterior. Sem indústria, afirma ele, a economia perde a capacidade de restabelecer o crescimento.

Belluzzo deu uma palestra nesta segunda-feira à noite na Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).


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