Folha de S. Paulo


Banco Central confirma apostas e mantém, pela 2ª vez, Selic em 11%

O Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (16), manter a taxa Selic em 11% ao ano. Foi a segunda manutenção seguida do juro básico, após uma sequência de nove altas, iniciada em abril do ano passado. A decisão foi tomada por unanimidade e sem viés de baixa ou alta.

A instituição repetiu o comunicado da decisão anterior. Não indicou, portanto, quais os próximos passos da política monetária. "Avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic", diz o comunicado.

O próximo encontro do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) está marcado para 2 e 3 de setembro, cerca de 30 dias antes do primeiro turno das eleições (5 de outubro). Depois, o comitê se reúne em 27 e 28 de outubro, dois dias após o segundo turno.

A pausa no ciclo de aperto monetário já era esperada por economistas, que enxergam estabilidade no juro básico até o fim de 2014, pelo menos. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a manutenção da Selic era unânime entre os 57 entrevistados.

A avaliação se baseia no enfraquecimento da economia e no alívio recente na inflação, apesar de os preços ainda permanecerem pressionados em 12 meses.

O IPCA, índice oficial da inflação no país, ficou em 0,40% em junho, ante 0,46% no mês anterior. Em 12 meses, porém, chegou a 6,52%, estourando o teto da meta estabelecida pelo governo, que é de 4,5% ao ano, com margem de dois pontos para cima ou para baixo.

De acordo com a versão mais recente do relatório Focus, do Banco Central, as instituições financeiras consultadas pela autoridade esperam que o índice oficial de preços no país tenha alta de 6,48% em 2014.

A Selic é um instrumento usado pelo governo para conter o consumo, uma vez que o crédito (tanto empréstimos em instituições financeiras quanto parcelamentos em lojas, por exemplo) fica mais caro/barato, conforme os juros sobem ou descem.

Editoria de Arte/Folhapress
Indicadores - Juros
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PERSPECTIVAS

Analistas ouvidos pela Folha descartam novas elevações –ou cortes– na Selic até o final deste ano. Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, o período de pausa deve ser pautado nos sinais inequívocos de enfraquecimento da atividade econômica doméstica e na deterioração da perspectiva de crescimento do país.

"O efeito dos juros está sendo limitado por uma inflação de custos, como salário mínimo e tarifas, e pela política fiscal. Se a política monetária fosse mais frouxa, a inflação seria mais de 8%."

"Os dados correntes sugerem uma atividade econômica fraca ou até mesmo em contração e não podemos dizer que as perspectivas são de recuperação. A confiança da indústria recuou em junho pelo sexto mês consecutivo e se encontra atualmente no seu menor nível em cinco anos", diz em relatório.

"Até mesmo o setor de serviços, motor propulsor da economia brasileira nos últimos anos, tem apresentado um pessimismo crescente, indicando que faltam pilares para um crescimento sustentável da economia brasileira", completa.

Para Eduardo Velho, economista-chefe INVX Global Partners, somente uma surpresa positiva em relação à inflação e uma recessão poderiam levar a um corte de juros este ano.

No final de agosto, será divulgado o PIB (Produto Interno Bruto) do segundo semestre, que poderá apresentar queda em relação ao primeiro. Para haver recessão, seria necessária ainda outra queda no terceiro trimestre.

Na visão do economista, o fato de a inflação estar resistente não significa que a política de juros deixou de funcionar.

Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), argumenta que a autoridade monetária nacional não tem base para retomar o aperto monetário. "O BC não tem uma ajuda da parte fiscal, a atividade econômica está se deteriorando. Seria inócuo aumentar os juros sem ajuda fiscal, o que poderia agravar o quadro de crescimento baixo", diz.

A possibilidade de corte na Selic também foi afastada pelos especialistas até o fim do ano. José Carlos Faria, economista-chefe do Deutsche Bank, afirma que um corte prejudicaria a credibilidade do sistema de metas do Banco Central e contribuiria para aumentar ainda mais as expectativas para a inflação.


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