Folha de S. Paulo


Passagem aérea e hotel para Copa impedem desaceleração maior do IPCA

Não fossem os aumentos de preços ligados à Copa do Mundo, a inflação de junho teria desacelerado mais e a taxa em 12 meses não superaria o teto da meta do governo para 2014.

O IPCA –a inflação oficial do país– fechou junho em 0,40%, desacelerando frente ao índice de maio (0,46%).

Sozinhos, hotéis e passagens tiveram turbinaram o IPCA em 0,20 ponto percentual. Ou seja, sem esses aumentos, a inflação seria de 0,20% –e não de 0,40%.

Em 12 meses, o resultado ficou em 6,52%, acima do teto da meta do governo (6,50%), segundo dados divulgados nesta terça-feira (8) pelo IBGE.

Após altas já registradas em meses anteriores em alimentação fora do domicilio, aluguéis e cerveja nas cidades-sede, os vilões da vez foram as passagens aéreas e os hotéis, que impulsionaram os grupos transporte e despesas pessoas –os dois únicos a não perderem ritmo de maio para junho, segundo o IBGE.

A média de transportes passou de uma queda de 0,45% em maio para um aumento de 0,37% devido ao forte reajuste das passagens aéreas que subiram 21,95%.

Em maio, o custo desse serviço tinha recuado 21,11% diante de descontos praticados antes da Copa.

Segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de preço do IBGE, o governo autorizou um número maior de voos já em maio. Com a oferta maior e a procura ainda reduzida para alguns destinos, as companhias deram descontos naquele mês para encher os aviões.

Assim que a Copa começou, a história mudou e os preços dispararam especialmente nas cidades-sede de maior apelo turístico e nos principais polos de conexões, como São Paulo (alta de 22,36% em junho).

Os maiores reajustes ficaram com Salvador (37,39%) e Rio de Janeiro (33,83%).

Editoria de Arte/Folhapress
Indicadores - Evolução do IPCA
Indicadores - Evolução do IPCA

HOTÉIS

Já no caso dos hotéis, as altas mais expressivas em junho ficaram com Rio de Janeiro (43,52%) Fortaleza (41,59%), Salvador (30,21%) e Curitiba (31,54%) e Belo Horizonte (28,47%).

Com uma rede hoteleira maior e mais oferta de vagas, o aumento em São Paulo, embora elevado, foi um pouco mais brando: 16,13% em junho.

Fora da Copa, o aumento em Goiânia, por exemplo, foi de 1,30%.

"Sem dúvida os hotéis e as passagens subiram por causa da Copa. Sem esse impacto, o IPCA poderia ser menor", disse Nunes dos Santos.

A economista pondera, porém, que esses aumentos são "pontuais" e tendem a retroceder após a Copa.

"No geral não foi uma inflação 'ruim' com parte importante da alta centrada em hotéis e tarifas de avião, impactos esses que devem sumir no pós-copa", concorda André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

EVOLUÇÃO MENSAL DOS PREÇOS

GRUPO MAIO (em %) JUNHO (em %)
Índice Geral 0,46 0,4
Alimentação e Bebidas 0,58 -0,11
Habitação 0,61 0,55
Artigos de Residência 1,03 0,38
Vestuário 0,84 0,49
Transportes -0,45 0,37
Saúde e Cuidados Pessoais 0,98 0,6
Despesas Pessoais 0,8 1,57
Educação 0,13 0,02
Comunicação 0,11 -0,02

Fonte: IBGE

SERVIÇOS

Para a Rosenberg & Associados, esses dois itens pressionaram ainda mais os serviços (de 0,30% em maio para 1,10% em junho) e anteciparam o estouro da meta da inflação em 12 meses em junho.

O indicador acumulado deve se manter acima do teto do governo, pois a taxa de junho de 2013 foi muito baixa (0,03%). Em 12 meses, os serviços avançaram e bateram em 9,08%.

Também pesou na agregação dos serviços a alta de 0,82% da alimentação fora do domicílio, que subiu 0,82% em julho, puxada principalmente pela alta de 1,31% no Rio –cidade que mais recebeu turistas e onde o peso de bares e restaurantes é maior.

A expectativa é de um índice entre 0,20% e 0,30% em junho, ainda sob impacto benéfico dos alimentos, que tendem a se manter em desaceleração. Uma preocupação, porém, é o reajuste "salgado" de 18% das tarifas de energia em São Paulo –a região corresponde a um terço do IPCA geral.

"Esta moderação [dos alimentos] se manterá em julho", diz a LCA. A consultoria cita o fato da os itens alimentícios ainda estarem em deflação.


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