Folha de S. Paulo


Nos 5 anos de real, iogurte perde status de supérfluo, e crise abala entusiasmo

A onda de pessimismo gerada pela maxidesvalorização do real azedou as avaliações dos resultados atingidos pelo plano no aniversário de cinco anos da nova moeda.

Em julho de 1999, brasileiros tinham fresco na memória a tragédia anunciada meses antes. A desvalorização da moeda promovida pelo governo em janeiro, que resultara em tormenta mundial, foi colocada como o prenúncio de uma catástrofe. Analistas chegaram a prever um recuo de até 7,5% da economia naquele ano.

A responsabilidade sobre o cenário turvo recaiu sobre Fernando Henrique Cardoso. O Datafolha mostrou, pela primeira vez, uma dissociação entre a popularidade do então presidente e da moeda, que até então andavam juntos.

Para 61% dos brasileiros, o tucano fora o culpado pela crise que levou à maxidesvalorização, por não ter sabido proteger a moeda. O dólar ultrapassou a barreira dos R$ 2,00 depois de ficar por cinco anos próximo da paridade (US$ 1 = R$ 1).

Não foi só Fernando Henrique Cardoso que sofreu com a crise. O Datafolha também mostrou menor entusiasmo com a própria moeda. Cerca de 40% dos brasileiros passaram achar o real regular, ante 34% de ótimo. Até a desvalorização, a aprovação era da ordem de 60%.

Ainda assim, o balanço da evolução da nova moeda e a relativa estabilidade obtida durante os cinco primeiros anos trouxeram dados positivos. Como os 13 milhões de novos brasileiros incorporados ao mercado consumidor. Nos supermercados, o iogurte perdeu o status de supérfluo e a previsibilidade de preços abriu espaço para o planejamento das compras.

"Antes do Real, não dava para calcular quanto seria a despesa do mês. Num mês, era uma coisa; no outro podia ser o dobro", disse a dona de casa Teresinha Damazo nos cinco anos do plano.

Ao final do ano, o impacto da desvalorização foi menor do que o previsto. O PIB avançou 0,3% e o dólar ficou próximo de R$ 1,80.

Editoria de Arte/Folhapress

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Veja frases que marcaram os cinco anos do Plano Real:

"O plano está sendo marcado por ondas de consumo, cada vez mais curtas. Depois da explosão de não duráveis (alimentos, roupas, calçados), tivemos a expansão da procura por eletrodomésticos e, em seguida, a febre da reforma e construção de casas"

AUGUSTO MARQUES DA CRUZ FILHO,diretor administrativo financeiro do Grupo Pão de Açúcar

"No deserto de Atacama, ao norte do Chile, não chovia havia 40 anos. De repente, caiu um aguaceiro e, 48 horas depois, o deserto estava coberto de flores. É isso o que está acontecendo agora no Brasil. A desvalorização do real trouxe o que a indústria queria, que é isonomia competitiva. Isso vai se refletir no nível de emprego imediatamente"

HERMMAMM WEVER, diretor-presidente da Siemens

"Os riscos estão na economia norte-americana e na tendência histórica da sociedade brasileira de demandar recursos do governo. Nesse momento em que a ameaça de uma crise está desaparecendo, parcelas da sociedade se julgam no direito de requerer recursos.

Isso gera uma ameaça aos gastos públicos. É preciso ser mais duro na parte fiscal e privatizar mais rápido"

HENRIQUE MEIRELLES, presidente do Bank of Boston

Editoria de arte/Folhapress

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