Folha de S. Paulo


Fábricas de etiquetadoras resistem vendendo para pequenos varejistas

Se a inflação alta voltar, ao menos será mais silenciosa. As barulhentas máquinas de remarcação de preços sumiram, nos últimos 20 anos, vítimas do código de barras.

As empresas que produziam as etiquetadoras, assim, ficaram dependentes de pequenos varejistas que ainda utilizam as máquinas.

"Caiu bastante. Alguns mercados ainda usam, a gente vai levando. Mas dá saudade de quando tinha etiquetadora em todo lugar", diz Rose Brito, proprietária da Etiquetadoras Pico, de São Paulo.

A empresa existe desde 1985 e chegou a falir dez anos atrás, quando foi assumida por Rose e seu marido. Hoje, eles apenas revendem -não há produção própria.

Já a Metiq, de Caxias do Sul (RS), segue produzindo. A estratégia da empresa foi se especializar em pequenos clientes. A empresa diz que dessa maneira conseguiu fazer a produção crescer mais de 40% no último ano.

No exterior, a grande produtora do setor sempre foi a alemã Meto, que exportava para grandes supermercados brasileiros nos anos 1990.

Ela começou a fazer esses equipamentos em 1959. Em 1999, foi comprada por uma empresa americana, que apostou na diversificação. Hoje, produz também displays para supermercados, equipamentos para etiquetagem de roupas, entre outros.

A luta que essas empresas perderam para o código de barras se deu em dois rounds. Primeiro, entre 1990 e 1996, nos supermercados e lojas de departamentos.

Segundo dados da Associação Brasileira de Automação Comercial, nesse período o número de lojas utilizando o sistema foi de quase zero para 2.195. Já o número de produtos com códigos de barras foi de 3.200 para 250 mil.

Em 1998, uma briga sobre o código de barras ocupou páginas e páginas dos jornais. Associações de consumidores diziam que os mercados usavam o sistema para enganar os clientes no caixa, cobrando mais que o valor das prateleiras. Uma associação de supermercados disse que voltar às etiquetadoras custaria, na época, R$ 2 bilhões.

Renan Calheiros, então ministro da Justiça, chegou a determinar a volta das etiquetas. O caso foi ao Supremo Tribunal de Justiça, que concordou com Renan. O tempo e uma lei de 2004, porém, fizeram as etiquetadoras voltarem ao ostracismo.

A essa altura, os demais varejistas, como farmácias, também já tinham aderido aos códigos de barras. Hoje, a não automatização se concentra nos pequenos estabelecimentos de setores como estacionamentos e açougues.


Endereço da página: