Folha de S. Paulo


Economia do Norte amadurece, mas grandes distâncias são empecilhos

De 1995 a 2010, a região Norte foi aquela cujo PIB mais cresceu em termos reais: 4,7% ao ano. Nesse período, o aumento no PIB brasileiro foi de 3,1%.

O Amazonas, segunda maior economia regional, logrou a maior taxa: 5,4%.

Os demais Estados da Amazônia Ocidental –Rondônia, Acre e Roraima– cresceram 5%, 4,8% e 4,9%, respectivamente. Já Amapá, 5,2% e Tocantins, 5,1%. O Pará, a maior economia do Norte, cresceu menos: 3,7%.

NORTE
Indústria começa a ganhar espaço na região

Dos três grandes setores, o Brasil logrou maior taxa média anual na agropecuária, 3,7%. Os serviços aumentaram 3,2%. Já a indústria, apenas 2,2% –dentro da qual a de transformação teve a menor taxa, 1,7%.

Isso contrasta com a região Norte, cuja indústria cresceu 5,7%, puxada pela indústria de transformação. Os serviços cresceram 4,3%, mas a agropecuária só 2,4%.

A expansão concorreu para o Norte ampliar seu peso no PIB do país, de 4,2% em 1995 para 5,3% em 2010.

O avanço da indústria de transformação é notável, quer a ligada ao agronegócio, como em Rondônia, quer a do Polo Industrial de Manaus (PIM), que têm incentivos da Zona Franca de Manaus.

Assim, a região tem se sobressaído em ramos industriais específicos: Pará, na extração de minerais metálicos, e Amazonas, via PIM, no complexo eletrônico, produção de motocicletas, de bebidas etc.

Tais dinâmicas foram engendradas por intervenções governamentais feitas no regime militar. Se, por um lado, ainda concorrem para a expansão regional, por outro o rendimento per capita obtido pelos censos demográficos não aponta para uma equiparação com o país.

Esse hiato não diminuiu entre 1970 e 2010, sinalizando que a região tem gerado cada vez mais PIB, mas os nortistas não vêm se apropriando na mesma medida.

Nos anos 1960 e 1970, havia a ideia de que polos de crescimento permitiriam concentrar recursos em áreas específicas com a irradiação em prol dos arredores.

Irradiar de uma cidade europeia ou da região Sudeste para outras próximas de si é distinto da escala amazônica, caso da Amazônia Ocidental, de longas distâncias e localidades dispersas.

Eis um dos dilemas amazônicos: nas partes mais desmatadas, com cidades mais próximas entre si, podem ocorrer economias de regionalização, um tipo de economia de aglomeração em que uma área central atrai atividades para seus arredores.

Já onde a floresta está preservada, não há como usufruir de economias de regionalização, um empecilho para o desenvolvimento.

Ademais a maioria dos municípios nortistas é especializada na agropecuária –seja o agronegócio dinâmico, seja de subsistência.

Daí outro dilema: de um lado, o avanço da fronteira agrícola pode ameaçar a biodiversidade; de outro, há um conjunto de pessoas –fora dessa fronteira– que vive do setor.

Os desafios e dilemas amazônicos requerem que ciência, tecnologia, inovação e esforços em prol da produção tenham ângulo de visão amplo.

Não basta, por exemplo, promover a aquicultura. Ela deve se inserir em cadeias de valor com apropriação de renda e envolvimento de produtores locais.

De modo geral, a economia nortista precisa ampliar seus encadeamentos, aproveitando economias de escopo, competências locais e, de modo criterioso, recursos naturais.

Não significa abdicar das dinâmicas advindas do século 20, mas de concatená-las com outras que reforcem a apropriação in loco do que é produzido na região.

MAURO THURY DE VIEIRA SÁ é doutor em economia e professor da Universidade Federal do Amazonas.


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