Folha de S. Paulo


Taxa de desemprego sobe e fica em 7,1% no primeiro trimestre

A taxa de desemprego, em nível nacional, ficou em 7,1% no primeiro trimestre deste ano, acima dos 6,2% dos últimos três meses de 2013. Divulgados nesta terça-feira (3), os dados são da Pnad Contínua, primeira pesquisa do IBGE sobre mercado de trabalho em todo o país.

A taxa do primeiro trimestre é a mais baixa para o período desde 2012, quando os dados da pesquisa começaram a ser coletados. De janeiro a março de 2013, o percentual havia sido maior: 8%.

Pelos dados da nova pesquisa, o contingente de desempregados no país somou 7 milhões, 15,7% a mais do que nos últimos três meses de 2013 e 9,7% abaixo do registrado de janeiro a março de 2013.

Já o total de ocupados caiu 0,7% ante o quarto trimestre e subiu 2% frente os três primeiros meses de 2013.

O aumento da renda permite que membros secundários das famílias (em geral, jovens e mulheres) saiam do mercado de trabalho em busca de uma oportunidade melhor ou por opção (estudar, cuidar dos filhos) com o "lastro" de um rendimento familiar que ainda cresce –apesar da freada dos salários desde o fim de 2013.

Editoria de Arte/Folhapress

Na média de 2013, a taxa de desemprego se situou em 7,1%, num patamar mais elevado do que nas seis regiões metropolitanas do país (na faixa de 6%) –o que já era esperado por analistas, pois são áreas onde há mais competição por mão de obra e renda mais elevada.

No primeiro trimestre deste ano, a taxa de desemprego nessas áreas foi de 5% –a mais baixa desde 2002.

COMPARAÇÕES

O IBGE diz que as pesquisas não são comparáveis, pois a Pnad tem uma abrangência maior e um questionário diferente.

Poucos são os analistas que preveem os dados da Pnad Contínua.

Entre os que fazem previsão, há expectativa de que haja uma aceleração da taxa neste ano, chegando a 8% na média de 2014 diante da menor oferta de trabalho e de uma retomada da procura por emprego, com o cenário de desaceleração da economia –revelado pelos dados do PIB do primeiro trimestre, que apontou um crescimento de 0,2% frente aos três últimos meses de 2013.

O IBGE não disponibilizou ainda os resultados do rendimento do trabalhador. A informação só será apresentada em 2015.

FORMALIZAÇÃO

Assim como na pesquisa mensal restrita às metrópoles, os dados da Pnad mostram avanço da formalização do mercado de trabalho, com alta de 4,9% dos empregados com carteira e queda de 4% entre os que não possuem registro.

Tal movimento, porém, já mostra perda de fôlego. Em relação ao quarto trimestre, o emprego formal subiu apenas 0,9%.

Pelos dados do IBGE, persistem as diferenças regionais no mercado de trabalho, com maior desemprego no Norte e Nordeste –taxas de 7,7% e 9,3%, respectivamente.

Sul e Centro-Oeste registram patamares mais baixos (4,3% e 5,8%).

no Sudeste, a taxa de 7% é quase a mesma da média do país. Em todas, houve avanço frente ao quarto trimestre.

A distância da taxa entre homens (5,9%) e mulheres (8,7%) também se manteve.

DIVULGAÇÃO RETOMADA

Em abril, quando da última divulgação, a direção do IBGE abriu uma crise institucional que abalou o órgão ao suspender a apresentação dos dados da pesquisa neste ano. Após a repercussão negativa, a diretoria do órgão IBGE voltou atrás e decidiu manter o calendário original da Pnad Contínua. A pesquisa, porém, só trará informação sobre rendimento (o ponto mais problemático de toda a crise) em 2015.

A diretoria do IBGE afirmou no mês passado que os estudos para estimar a renda domiciliar per capita estão sendo realizados a fim de cumprir, já em 2015, a lei que alterou a regra de distribuição do Fundo de Participação dos Estados, de 2013.

O pedido de informações de senadores e a contestação deles sobre as margens de erro discrepantes entre os Estados o que poderia gerar contestações na Justiça foram o estopim da crise no IBGE.

É que, após o pedido, a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, e a maioria do conselho decidiu interromper as divulgações. A alegação de Bivar era que não havia pessoal suficiente para rever o indicador de renda e preparar os dados coletados para a divulgação.

O corpo técnico reagiu à decisão. Duas diretoras contrárias à decisão pediram exoneração e 18 coordenadores colocaram seus cargos à disposição. O grupo da área de emprego e rendimento se comprometeu a formular uma cronograma de trabalho para fazer os estudos sobre a renda e uma proposta para manter o calendário de divulgações que estava suspenso até janeiro de 2015.

Em entrevista à Folha, Bivar afirmou que 'seria bobagem' dizer que a reação não fez IBGE voltar atrás e retomar a divulgação da pesquisa. Bivar considerou ainda que a discussão se intensificou em torno da paralisação das divulgações e ganhou força -com repercussão na mídia e nos meios sindicais e políticos- pelo fato "de ter sido um ano eleitoral", o que "contou para essa avaliação [negativa]" da decisão.

GREVE

O IBGE diz que todo o seu calendário de pesquisas está mantido, pois a greve é parcial e não afetou nem coleta de dados nem sua preparação para a divulgação. O sindicato, por sua vez, afirma que há risco, dependendo da adesão e do tempo de greve nas pesquisas de emprego, inflação, indústria e PIB. A categoria só havia garantido a divulgação da Pnad Contínua, pois foram contrários à sua suspensão.

O IBGE assegura, se for preciso, fará até com remanejamento de funcionários entre os Estados para manter as pesquisas. O IBGE estima em cerca de 15% a adesão. O sindicato dos servidores fala em 70%.

Durante a divulgação da pesquisa, um grupo de servidores em greve fez um manifesto à imprensa para pedir concursos, autonomia técnica e uma gestão mais participativa do instituto. O principal mote do movimento é a equiparação dos salários do IBGE com outros órgãos, como o IPEA –posição também defendida pela diretoria do orgão, mas barrada pelo Ministério do Planejamento.


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