Folha de S. Paulo


Criador de cerveja campeã do mundo pretende expandir negócios para os EUA

Estávamos observando o telão no salão de eventos do hotel em Denver. Os primeiros anunciados são bronze e prata. Nada. Achávamos que seria muito difícil ganhar a medalha de ouro. Quando falaram nosso nome, nós pulamos, gritamos e isso acabou contagiando a plateia, que nos aplaudiu bastante.

Foi o primeiro título da história da América do Sul nessa competição, a World Beer Cup, o Mundial da cerveja.

Foi a primeira vez que participamos do World Beer Cup, no início de abril, no Colorado (EUA). Esses concursos são importantes para que seu produto seja avaliado por um júri especializado.

Mesmo se não ganhar medalhas, terá um feedback dos especialistas, o que pode ajudar a definir novos conceitos para seus produtos.

Alexandre Rezende/Folhapress
O mestre cervejeiro José Felipe Pedras Carneiro, em bar em Belo Horizonte
O mestre cervejeiro José Felipe Pedras Carneiro, em bar em Belo Horizonte

A cerveja que ganhou o ouro foi a Wäls Dubbel, que competiu com outras 34 na categoria Dubbel estilo belga. A Dubbel foi a primeira cerveja que produzimos, em 2006. É engarrafada em garrafas de 375 ml com rolhas.

Os juízes gostaram do aroma produzido pela levedura na cerveja, apreciaram as notas "toffe" e caramelo da receita e seu caráter levemente picante, com aromas de frutas secas. Ela harmoniza muito bem com carnes de sabor mais acentuado. 

Em outra categoria, ganhamos a medalha de prata com Wäls Quadruppel, produzida em 2009 pela primeira vez. Ela leva cascas de laranja e coentro na receita e tem maturação em lascas de carvalho francês que antes foram marinados em cachaça.

Com os títulos, o que mais muda é a relação com o cliente, que, além de confiar mais no seu produto, sempre espera mais: mais títulos, mais sabor, aromas e inventividade.

O marketing é consequência e traz o novo consumidor até nossas cervejas
.
Neste mês, nossas cervejas começam a ser distribuídas nos EUA. Nossos planos para o segundo semestre incluem a abertura de uma fábrica em San Diego, Califórnia. Um grupo de investidores das Filipinas se interessou e estamos abrindo uma cervejaria em sociedade.

Sou o mestre cervejeiro, domesticador de leveduras. A levedura é o fungo responsável pelo processo fermentativo. Eu cuido delas, elas, da cerveja. É uma troca.

Até os 21 anos, eu nem sequer tomava bebidas alcoólicas. Em um estágio internacional na Disney, em Orlando, tive contato com alguns pubs e cervejas, foi uma paixão que nunca mais teve fim.

Quando voltei ao Brasil, comecei a me interessar pela cerveja e pela nossa empresa, mas atuava na área de marketing.

A Wäls começou pelas mãos dos meus pais, em 1999. A ideia deles era fazer uma cerveja para suprir a demanda de uma rede de fast food de Belo Horizonte.

No começo a nossa produção era apenas de um estilo. Até tentamos criar bebidas elaboradas na época, mas o consumidor não estava pronto e acabamos tendo de jogar fora tanques inteiros (2.000 litros) de cerveja.
Meu irmão, Tiago, foi quem deu a ideia de começar em 2006 a fabricar cervejas mais elaboradas.

No início de 2009, nosso mestre cervejeiro faleceu com um infarto fulminante e da noite para o dia eu me vi com a obrigação de cuidar das cervejas da minha empresa.

O início foi caótico. Não havia nada que fizéssemos que pudesse vencer as campanhas multimilionárias das grandes cervejarias.

Tiago, então, teve uma excelente ideia: começamos a fornecer nossa bebida a eventos universitários. Éramos também jovens universitários e estávamos dispostos a fazer bons negócios em troca de a nossa marca aparecer.

A cervejaria começou com apenas dois funcionários, hoje somos mais de 40. O faturamento inicial mal dava para pagar as contas, mas, com muita economia, saímos de um galpão alugado, compramos o nosso terreno e construímos a nossa cervejaria.

Algumas vezes tivemos problemas financeiros tão sérios que fechar as portas parecia ser a melhor alternativa. As soluções apareciam sempre de última hora.

Atualmente produzimos 15 rótulos em linha, além dos sazonais e cervejas colaborativas. Já produzimos mais de 25 estilos de cerveja. Nosso faturamento hoje é de R$ 12 milhões anuais, com previsão de R$ 15 milhões até o fim deste ano.


Endereço da página: