Folha de S. Paulo


Economia passa por recuperação lenta e dolorosa de crise, diz Mantega

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta quarta-feira (14) que a recuperação da economia internacional está sendo mais lenta do que o previsto, e que não está sendo fácil para o país engatar um novo ciclo de crescimento.

"Podemos dizer que a crise está sendo superada, mas da superação da crise até implantarmos um novo ciclo de crescimento não é imediato, há uma transição, diria dolorosa, em todos os países envolvidos nisso."

Mantega está participando agora de audiência pública na Câmara para tratar da controversa compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, feita em 2006 pela Petrobras, entre outros assuntos.

Acompanhe aqui o discurso de Mantega ao vivo.

Segundo ele, o Brasil precisa investir mais em infraestrutura e educação e aumentar a inovação e a produtividade da economia.

"Precisamos melhorar o mercado interno, que tem um grande potencial, tem aumentado muito nos últimos anos, mas recentemente está com menos dinamismo por falta de crédito", disse. De acordo com o ministro, há atualmente escassez de crédito para consumo, não para investimento.

Mantega voltou a garantir que a meta fiscal para o ano, de poupar 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto) para pagamento dos juros da dívida, será cumprida, e que a inflação, que tem se mantido no patamar acima de 6%, está em trajetória de queda.

"Não tivesse havido desvalorização do real em 2012 e 2013, nos teríamos uma inflação menor, importando produtos a preço menor. Mesmo assim, podemos ver inflação está sob controle, não ultrapassou os limites, depois de ter tido pressão maior em março. Já está em trajetória de queda."

O ministro mostrou-se satisfeito com a estabilidade do real, moeda que "mais se valorizou" nos últimos seis meses, em 5,3%.

"Ninguém mais fala dessa turbulência [do câmbio], e ninguém mais fala que emergentes não vão receber investimentos, crescer."

Para o próximo ano, o ministro aposta num crescimento semelhante ao do ano passado. Em 2013, o PIB brasileiro cresceu 2,3%.

Alan Marques/Folhapress
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante audiência na Comissão de Fiscalização Financeira da Câmara dos Deptuados
Guido Mantega (Fazenda) durante audiência na Comissão de Fiscalização Financeira da Câmara

RATING

Sobre o rebaixamento da nota de crédito, feita no início do ano pela agência de risco Standard & Poors, Mantega afirmou que a reação do mercado a essa decisão foi "nula".

"O que aconteceu nos mercados depois dessa mudança foi absolutamente nada. Ao contrário, aumento da bolsa e valorização do real, sinal de que esse aumento foi solenemente ignorado."

Segundo ele, a avaliação da agência foi equivocada, e "ninguém mais se lembra desse episódio".

A nota foi rebaixada em março de "BBB" para "BBB-" (a mesma da Espanha e das Filipinas), com perspectiva neutra -ou seja, a agência não pretende alterar a avaliação ao menos até 2015.

PESSIMISMO

De acordo com um levantamento feito pela FGV (Fundação Getulio Vargas), as avaliações de economistas sobre o Brasil voltaram a piorar em abril e derrubaram o índice de clima econômico do país ao nível mais baixo desde 1999. Na pesquisa, feita desde 1989, a nota brasileira só não é pior que a Venezuela entre 11 principais economias da América Latina.

O índice do Brasil caiu para 71 pontos em abril, ante 89 em janeiro. Trata-se de um patamar bem inferior à média dos últimos dez anos, de 121 pontos.

A pesquisa é feita com base em informações - qualitativas e quantitativas prestadas por especialistas nas economias da América Latina. No levantamento de abril, foram ouvidos 159 profissionais, em 18 países.

A pontuação final é uma média das notas dos indicadores, divididos entre aqueles sobre a situação atual e de expectativas. Notas abaixo de 100 pontos são consideradas como desfavoráveis.

No caso do Brasil, a pior avaliação é sobre o panorama atual (68 pontos), enquanto há mais otimismo em relação aos próximos seis meses (74 pontos).

Para os economistas ouvidos na sondagem, os principais problemas do Brasil são: falta de competitividade internacional, falta de confiança nas políticas do governo, inflação, deficit público e a carência de mão de obra qualificada.


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