Folha de S. Paulo


Tensão natural com o Tesouro faz BC precisar de autonomia, diz Tombini

Questionado sobre a necessidade de autonomia do Banco Central e sobre a entidade estar ou não em conflito com o governo, o presidente do BC, Alexandre Tombini, disse nesta terça-feira (6) que "um banco central sem autonomia para trabalhar não vai desempenhar o seu papel".

"Há sempre uma tensão entre o Banco Central e o Tesouro, e não só no Brasil especificamente. A autoridade fiscal busca se financiar em condições melhores e a autoridade monetária busca uma responsabilidade com a estabilidade de preços."

Ele disse que essa autonomia pode estar inscrita na legislação ou, "no mínimo", ser uma "autonomia de facto [na prática]".

"A autonomia de jure [pela lei], como vários bancos centrais no mundo têm, está em discussão, no debate político."

Tombini participou de um almoço, em São Paulo, promovido pela Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria. Ele ainda falou sobre a possibilidade de ser ministro da Fazenda em um segundo mandato de Dilma Rousseff.

Mário Fleck, presidente da Rio Bravo Investimentos, perguntou como seria a sua gestão. Segundo Fleck, algumas iniciativas do atual ministério dão muita insegurança ao investidor, como controle de tarifas, do preço da gasolina ou certa contabilidade inventiva.

"Estou tentando extrair algo na sua pergunta passível de resposta", brincou Tombini.

"Quanto mais estabilidade o governo oferecer, do ministério da Fazenda ao Banco Central, melhor. É isso que o poder público deve oferecer. Nós nunca vamos substituir vocês [empresários] nos investimentos."

CÂMBIO

O presidente do Banco Central também tratou do câmbio. O cenário internacional, disse, pode trazer "volatilidade, mas não vulnerabilidade". Ele reafirmou também que a inflação está sob controle e que voltará à meta.

"É muito comum, especialmente no âmbito do sistema financeiro, o desenvolvimento de algumas narrativas para explicar estratégias de investimento. Então surge a questão dos cinco países frágeis, por exemplo, em que o Brasil é colocado."

"Mas o país está preparado para esse período de transição da economia mundial. Hoje, por exemplo, temos um colchão, que são nossas reservas."


Endereço da página: