Folha de S. Paulo


Eike Batista doa aos filhos casas que têm valor estimado em R$ 50 mi

No ano passado, Eike Batista, o homem que já foi o mais rico do país, tornou-se um "sem-teto". Ele doou suas principais residências —as mansões no Jardim Botânico, área nobre do Rio, e em Angra dos Reis, no litoral fluminense– para os filhos Thor e Olin, do casamento com a modelo Luma de Oliveira.

Nas escrituras de doação, encontradas pela Folha em um cartório carioca, o valor dos imóveis é declarado, respectivamente, em R$ 15 milhões e R$ 3,7 milhões. Mas cálculos feitos por uma corretora apontam que as mansões valem, juntas, pelo menos R$ 50 milhões.

A residência carioca estaria avaliada em cerca de R$ 30 milhões. Já a casa de veraneio não sairia por menos de R$ 22 milhões, considerando apenas os 16.500 metros quadrados do terreno. As projeções não levam em conta os acabamentos e estruturas como hangar para os barcos, heliponto e outros luxos da propriedade.

A doação da mansão no Rio para os filhos ocorreu em junho de 2013, quando a crise no império de Eike já era evidente e o empresário renegociava dívidas bilionárias com os credores na holding EBX. As duas casas pertenciam ao ex-bilionário desde o fim da década de 1980.

A OGX enfrentava uma situação muito delicada, com as ações despencando, após confirmar que não tiraria petróleo de vários de seus campos. A petroleira e o estaleiro OSX atrasavam pagamentos para bancos e fornecedores.

Em dezembro, quando Eike passou a casa de Angra dos Reis para o nome dos dois filhos, ambas as companhias já tinham pedido recuperação judicial.

Segundo advogados especializados em direito imobiliário e falências consultados pela Folha, as doações só serão consideradas lesivas aos credores se Eike não tiver dinheiro suficiente para honrar todas as dívidas que assumiu na pessoa física.

O empresário costumava avalizar com seu patrimônio pessoal empréstimos concedidos pelos bancos a suas companhias. A reportagem apurou que ele ainda possui cerca de US$ 1 bilhão de avais dados em seu nome.

Procurada, a assessoria de Eike Batista afirmou que não iria comentar o assunto e não revelou o tamanho do patrimônio que resta ao empresário. Ele vendeu, por exemplo, seu jato particular, enquanto o iate Pink Fleet virou sucata.

Rafael Andrade - 5.jan.10/Folhapress
Eike Batista doa aos filhos casas que têm valor estimado em R$ 50 mi
Eike Batista doa aos filhos casas que têm valor estimado em R$ 50 mi

EXIBICIONISMO

As mansões doadas aos filhos Thor e Olin já entraram para o "folclore" em torno da figura de Eike. Dentro da sala da casa no Jardim Botânico, Eike estacionava um Mercedes SLR MacLaren, que virou símbolo de seu estilo exibicionista.

Era na mansão, que tem vista privilegiada do Cristo Redentor e faz divisa com o Horto Florestal carioca, que Eike recebia políticos e empresários. Até a cantora Madonna já foi fotografada saindo de lá, após jantar com o então bilionário.

Tanto no auge quanto na queda, a casa foi palco frequente de encontro de Eike com seus executivos.

Quando o império X ainda estava em construção, ficou famosa a reunião na casa em que o empresário chamou seus executivos de "guarda pretoriana", em referência aos soldados que defendiam o imperador romano.

Também foi na mansão o encontro que Eike teve com os executivos quando sua petroleira já estava às vésperas da recuperação judicial, para acalmar os ânimos e garantir que a OGX tinha futuro.

A casa de Angra dos Reis, um refúgio comum do empresário nos fins de semana, está instalada num amplo terreno de frente para o mar e conta com cinco construções diferentes, com heliponto e hangar para os iates.

Foi num fim de semana no balneário que Eike convenceu Cynthia Carrol, então presidente da Anglo American, a comprar sua mineradora MMX por US$ 5,5 bilhões –um negócio do qual ele deve se arrepender até hoje pelo prejuízo que trouxe a companhia britânica.

Como foram doados para os filhos –a casa do Rio com usufruto para o empresário–, Eike não está exatamente na "rua da amargura", mas deixou de ser o dono oficial das mansões.


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