Folha de S. Paulo


Análise: Você tem um plano de previdência ou um para a previdência?

Se você acha que as duas alternativas possuem o mesmo significado, então, provavelmente, tem apenas um plano de previdência.

A previdência privada ou complementar é uma modalidade de seguro contratado, em geral sob a forma de contribuições periódicas, para garantir uma renda futura ao beneficiário. Embora mais importante que o seguro de automóvel, muitos despendem anualmente mais tempo com o seguro do carro que com o seguro que representa sua previdência complementar.

Na construção do plano para a aposentadoria, deve-se atentar para fatores como renda desejada, tempo para se aposentar, alocação da carteira e reavaliação periódica.

O plano deve começar pelo seu objetivo. Assim, tudo tem início pela renda que deseja. Não planejar essa questão é equivalente a solicitar a um corretor um seguro de automóvel e não informar quais as características do carro.

Quanto maior a renda desejada, maior será a contribuição mensal a ser feita.

O tempo de contribuição, ou o tempo para formação do patrimônio para a aposentadoria, é um dos elementos mais relevantes do plano.

A regra mais simples e importante é: comece o quanto antes. Juros sobre juros transformam uma contribuição mensal de R$ 100 em R$ 242,1 mil em 30 anos se a taxa de rendimento for de 0,86% mensal (equivalente a 100% do CDI).

Se o período de contribuição for reduzido à metade, para ter o mesmo valor, deve-se ou correr mais risco nas aplicações, pois a rentabilidade terá de ser mais que o dobro da anterior, ou elevar a contribuição mensal para R$ 567.

Assim, quanto mais tempo de contribuição você tiver, menor será o esforço mensal na abdicação de consumo imediato e menor precisa ser o risco em suas aplicações.

Na alocação da carteira de investimento, o primeiro fator a considerar é a meta de vencer a inflação, mas também deve ser considerado o perfil de risco do investidor.

As melhores seguradoras possuem produtos que permitem uma diversificação entre as várias classes de ativos.

Quanto mais jovem o investidor, maior é a possibilidade de correr risco, pois terá mais tempo de corrigir erros na estratégia de investimento. Um investidor de 50 anos, por exemplo, deve ser mais conservador na alocação de seu portfólio, pois ainda precisa considerar a possibilidade de interrupções na contribuição por eventual desemprego.

Além da capacidade de correr risco, que pode ser justificada pela idade e renda mensal, é necessário analisar o perfil. Um investidor conservador deve evitar produtos mais arriscados.

Entretanto, mesmo o investidor mais conservador deve ter em mente que o produto de previdência é um investimento de longo prazo e, portanto, deve ter uma parcela de risco ponderada de forma adequada ao seu perfil.

Durante todo o período de contribuição, o investidor periodicamente deve reavaliar seu plano para verificar se o seu objetivo continua o mesmo e se suas contribuições e rentabilidade permitirão que a meta seja alcançada.

MICHAEL VIRIATO é coordenador do laboratório de finanças do Insper, instituto de ensino e pesquisa


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