Folha de S. Paulo


Sem indústria, cidade em MG vive caos após unidade da Votorantim fechar

Com sua atividade econômica completamente dependente da mineração, Fortaleza de Minas (MG) vive um caos financeiro em 2014.

A desativação da Votorantim Metais, em setembro do ano passado, fez os gestores municipais cortarem gastos, demitirem servidores e decretarem estado de emergência.

A empresa anunciou em 2013 a suspensão temporária na sua unidade de extração de níquel na cidade mineira.

A arrecadação de tributos gerada pela atividade da empresa, a principal da cidade, tem caído ao longo dos anos.

Os cerca de 4.300 habitantes já sentiram os efeitos, mas devem se preparar porque o pior ainda está por vir, de acordo com a prefeita Neli Leão do Prado (PSC).

Edson Silva - 11.dez.2013/Folhapress
Sede da Votorantim Metais, na cidade de Fortaleza de Minas, no interior de Minas Gerais
Sede da Votorantim Metais, na cidade de Fortaleza de Minas, no interior de Minas Gerais

Segundo a prefeitura, a arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) caiu 16% de 2012 para 2013. Foi de R$ 3,13 milhões para R$ 2,61 milhões. A projeção para este ano é que fique entre R$ 1,9 milhão e R$ 2,2 milhões.

O ISS (Imposto Sobre Serviços) também sofreu queda, de 13,6%: de R$ 1,11 milhão em 2012 para R$ 963 mil no ano passado. A projeção para este ano é que fique entre R$ 260 mil e R$ 300 mil.

A prefeita diz que a diminuição das receitas a obrigou a decretar estado de emergência em agosto de 2013 e a cortar gastos. A redução nas despesas atingiu nos últimos meses, inclusive, as áreas prioritárias: educação e saúde.

Entre as medidas, está a suspensão de parte do transporte gratuito para estudantes cursarem o ensino superior.

Na saúde, o município deixou de fornecer alguns remédios à população.

"Minha situação está crítica. Sem o imposto, perdemos muito. Os jovens estão indo embora. O comércio também sofre", disse a prefeita.

O chefe do setor de Fazenda, José Balduino da Silva Júnior, disse que hoje a folha de pagamento da prefeitura é de R$ 650 mil, mas que esse valor deve ser reduzido para cerca de R$ 430 mil. Isso quer dizer que ao menos 50 funcionários devem ser demitidos.

O município já enviou para o sindicato um projeto que prevê instituir um plano de demissão voluntária.

As reservas de níquel da cidade passaram a ser exploradas em 1986 por uma multinacional inglesa, tornando-se a maior e principal indústria. Em 2003, a unidade foi vendida à Votorantim.

Os efeitos da crise com as demissões da Votorantim são sentidos na cidade. Cícero Melo, 46, dono de um restaurante no centro, disse que já chegou a servir cerca de 140 refeições por dia, mas que hoje vende por volta de 20.

"Acabou a indústria, acabou a cidade", resumiu.

Em janeiro, a Votorantim Metais firmou um acordo com o Ministério Público do Trabalho de Pouso Alegre (MG) para regularizar as demissões. Segundo a prefeitura e o sindicato, cerca de 400 funcionários foram demitidos.

A empresa terá ainda que pagar R$ 350 mil ao município como compensação pelos prejuízos causados à cidade.

Em nota, a Votorantim Metais informou que suspendeu temporariamente as atividades de produção de níquel por causa da perda de competitividade por oscilação nos preços, taxas cambiais e política tributária desfavorável.


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