Folha de S. Paulo


Estímulos públicos à inovação no Brasil tiveram pouca eficácia

A fatia do faturamento de empresas brasileiras inovadoras destinada a investimentos para o desenvolvimento de produtos e processos novos recuou de 3,8% em 2000 para 2,4% em 2011.

O cálculo foi feito por pesquisadores do Centro de Políticas Públicas do Insper, com base em dados do IBGE, a fim de avaliar o resultado das medidas adotadas pelo governo para estimular a inovação no Brasil.

A pesquisa mostra um recuo ou uma melhoria lenta em indicadores do setor privado que medem as tendências relacionadas ao tema.

A parcela de empresas consideradas inovadoras que investiram em pesquisa e desenvolvimento (P&D) foi reduzida a menos da metade entre 2000 e 2011, recuando de 33% para 14% do total.

Embora os gastos com P&D tenham aumentado no período, estão sendo realizados por um número cada vez menor de companhias.

Segundo Naercio Menezes Filho, um dos autores do estudo, essa concentração pode ser consequência do fato de que o acesso a subsídios e a outros incentivos do governo nos últimos anos é mais fácil para grandes empresas.

"O ideal é que o acesso das empresas de menor porte a esses incentivos fosse muito maior porque elas têm grande potencial inovador", diz.

Embora a proporção de companhias beneficiadas tenha aumentado entre as empresas de todos os tamanhos, a disparidade é grande.

Entre as companhias inovadoras com 50 a 99 funcionários, a parcela das que tiveram acesso a incentivos fiscais para investimentos em P&D entre 2009 e 2011 foi de apenas 1,6%, ante 39% entre as empresas com mais de 500 empregados.

Considerando todos os programas do governo de incentivo à inovação, a proporção das empresas com 50 a 99 funcionários beneficiadas, no mesmo período, foi de 30%, ante 55% entre as com mais de 500 empregados.

Além de investimentos internos e externos em P&D, atividades inovadoras incluem, por exemplo, a aquisição de softwares e de máquinas e equipamentos, de acordo com a Pesquisa de Inovação (Pintec), realizada pelo IBGE.

Segundo Menezes Filho, os estímulos do governo à inovação ao longo da última década não provocaram a reação esperada do setor privado.

Barreiras burocráticas e a falta de mão de obra qualificada são apontadas como algumas causas da resposta lenta por parte das empresas.

Outro problema, segundo especialistas, é a baixa interação entre o mundo acadêmico e o setor privado.

Dados de levantamento recente da Thomson Reuters mostram que a produção de pesquisa do Brasil aumentou 145% -o triplo da média mundial- entre 2003 e 2012.

Segundo David Pendlebury, analista da Thomson Reuters, o aumento no número de trabalhos científicos brasileiros é recente e o impacto desse movimento sobre a inovação não é imediato.


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