Folha de S. Paulo


Empresário Henry Maksoud é enterrado em São Paulo

O empresário Henry Maksoud foi enterrado na manhã desta sexta-feira (18) no Cemitério do Morumby. A cerimônia ocorreu às 9h e, segundo a assessoria do local, foi acompanhada por cerca de 40 pessoas.

Dono do tradicional hotel Maksoud Plaza, ele morreu nesta quinta-feira (17), aos 85 anos. Segundo a empresa, Maksoud morreu por volta das 13h, em casa, na Chácara Flora, zona sul da capital.

O atestado de óbito informa que a causa da morte foi uma parada cardíaca. Segundo funcionários próximos, há cerca de três anos, Maksoud se submeteu a uma cirurgia cardíaca.

No ano passado, ele foi internado no Hospital Albert Einstein em razão de uma pneumonia e, desde então, estava com a saúde debilitada. Com isso, ele se afastou dos negócios e o hotel foi tocado pelo seu neto, Henry Maksoud Neto, que já trabalhava com o avô.

Henry teve dois filhos com a primeira esposa, Ilde Maksoud: Roberto e Claudio. Separou-se judicialmente em 2003, e era casado com Georgina Célia Maksoud. O empresário deixa netos e bisnetos.

Formado em engenharia civil e engenharia elétrica, Maksoud fundou em 1958 a Hidroservice, empresa de engenharia e projetos que foi responsável pelos aeroportos Tom Jobim/Galeão e Eduardo Gomes, de Manaus.

A Hidroservice foi uma das primeiras empresas do país a projetar grandes obras no exterior, como o sistema de telecomunicação da Nigéria.

Durante a reserva de mercado para o setor de informática, Maksoud fundou a Sisco, uma das primeiras empresas de computadores, softwares e sistemas do país.

Nos anos 70 e 80, ainda durante a ditadura, o empresário marcou época por sua defesa do liberalismo econômico e crítica à presença do Estado na vida do país.

Dono da revista "Visão", um dos principais veículos de informação na época, e apresentador de um programa de TV ao modelo "talk-show" ("Henry Maksoud e Você"), ele aproveitava a exposição que tinha para defender a privatização, dentre outras ideias, até o começo da década de 1990.

Maksoud era admirador do economista e filósofo Friedrich August von Hayek, considerado o pai do neoliberalismo, de quem se tornou amigo.

Foi também autor e diretor da peça teatral musical "Emoções que o Tempo não Apaga", uma crônica relacionada aos eventos do hotel Maksoud Plaza, que estreou no próprio hotel em 2006.

O MAKSOUD PLAZA

O Maksoud Plaza, que fundou em 1979, foi durante muito tempo foi ponto de referência de grandes empresários, banqueiros e políticos. Com 25 andares, 372 quartos, 44 suítes principais e cerca de 350 funcionários, hospedou estrelas como Frank Sinatra, Mick Jagger e Ozzy Osbourne.

Com 400 lugares, o teatro do Plaza ficou famoso entre o final dos anos 80 e o começo dos 90, recebendo grandes nomes da música, como os pianistas Nelson Freire, Miguel Proença e Marcelo Bratke, além do flautista Altamiro Carrilho.

Em agosto de 1981, o hotel teve seu momento mais glorioso: foi palco dos últimos quatro shows de Frank Sinatra no Brasil.

Outro momento marcante do Maksoud foi quando, em 1992, Axl Rose (vocalista dos Guns N' Roses) jogou pela janela de sua suíte uma cadeira, irritado com os jornalistas que o esperavam do lado de fora do hotel.

Depois, veio a fase dos espetáculos humorísticos de comediantes como Sérgio Rabello e Juca Chaves. Por fim, o teatro foi convertido num espaço alugado para congressos e eventos.

A ocupação do Maksoud Plaza em São Paulo começou a cair a partir de meados de 90. Na virada do século, a crise econômica e a superoferta de hotéis e flats levaram a rede hoteleira de São Paulo a enfrentar a maior turbulência da sua história.

Em 2002, o grupo Maksoud congelou os três empreendimentos por meio dos quais planejava se expandir para fora de São Paulo: um hotel em Manaus, um shopping e hotel em Bauru (SP) e um resort em Angra dos Reis (RJ).

"Ninguém acredita nas dificuldades que tenho. Agora, sou teimoso, nasci teimoso. Vou brigando, até porque me faz bem para saúde. Se vir que estou errado, desisto, mas, se não estou errado, continuo na briga", disse o empresário à época, sobre a dificuldade de tocar os projetos.

Maksoud, no entanto, sempre resistiu à entrada de parceiros capitalistas no hotel paulistano. Em 2003, quando o Plaza completou 25 anos, desabafava: "A indústria hoteleira está destroçada".

Por causa de dívidas trabalhistas da Hidroservice, o hotel foi a leilão, mas, devido a uma disputa jurídica, continuou como propriedade de Maksoud.

REFORMAS NA ECONOMIA

Em programa da TV há alguns anos, o empresário defendeu reformas para impulsionar a economia.

"O Brasil está acumulando miséria em todos os setores, precisa crescer em um nível muito elevado durante 20, 30 anos, e para isso precisa haver sustentabilidade", disse, na ocasião.

"Quem conhece um pouquinho de economia sabe que não haverá crescimento real da economia sem crescimento real dos investimentos, nem crescimento real dos salários sem crescimento real dos investimentos per capita. Não adianta apenas trazer capital fixo, tem que trazer também os chamados investimentos não convencionais, tecnologia, educação, investimento no homem", defendeu Maksoud.

Em sua visão, o desenvolvimento do país dependia de três reformas fundamentais: "Previdenciária, que só traz déficit, precisaria formar poupança física. Tributária, acabar com isso que está aí. A terceira é a trabalhista. A legislação trabalhista é a coisa mais estapafúrdia. Não é acabar com os direitos. Mas precisa reformar, porque está destruindo o país, impede o país de crescer", afirmou então.


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