Folha de S. Paulo


Após anos de alta, preços despencam no mercado de luxo

No ano passado, uma cobertura foi vendida por US$ 100 milhões em Nova York e uma segunda foi arrematada por US$ 200 milhões. A casa de leilões Christie's vendeu "Mulheres de Argel", de Pablo Picasso, por US$ 179 milhões, e a rival Sotheby's vendeu o "Lua Azul de Josephine", um diamante de 12 quilates, por US$ 48,4 milhões. Um Jaguar clássico foi vendido por US$ 13,2 milhões.

Para os "ultrarricos", 2015 foi embaraçoso de tão rico. Mas após anos de valorização estonteante, os preços dos ativos de luxo estão chegando ao pico e, em alguns casos, já começam a cair.

Stefan Wermuth - 28.jan.2016/Reuters
Gallery assistants carry the painting 'Tete de femme' by Pablo Picasso during a media preview of Impressionist and Modern Art Evening Sale at Sotheby's in London, Britain January 28, 2016. The picture is estimated to sell for between 16 -20 million British pounds when it is auctioned on February 3 in London.REUTERS/Stefan WermuthEDITORIAL USE ONLY. NO RESALES. NO ARCHIVE ORG XMIT: SWT05
Exibição do quadro "Tête de femme", de Pablo Picasso, leiloado com prejuízo para o dono

O volume vendido despencou, preços estão em queda e alguns dos bens colocados em leilão não encontram compradores.

"Acabamos de passar por um boom superior a qualquer coisa que vi em 30 anos", disse Jonathan Miller, presidente da Miller Samuel, uma consultoria e avaliadora imobiliária, sobre o mercado de imóveis de luxo. "Mas agora os compradores de ativos de alto valor parecem ter todos esfriado ao mesmo tempo".

O declínio é causado por muitos dos mesmos fatores que criam fraqueza generalizada nos mercados de todo o planeta: o colapso dos preços do petróleo e das commodities; a desaceleração na economia chinesa; e a perspectiva de juros mais altos nos Estados Unidos. De maneira bastante súbita, o voraz e perdulário apetite de bilionários recentes na Rússia, Brasil e China esfriou.

Em Manhattan, a cotação de imóveis de luxo caiu. O preço de uma casa na Park Avenue caiu de US$ 30 milhões para US$ 18,5 milhões. O valor pedido por um apartamento em Central Park South baixou de US$ 25 milhões para menos de US$ 18 milhões no final do ano passado e depois foi cortado em mais US$ 2 milhões. Nenhum desses imóveis foi vendido.

Preços como esses continuam a ser inatingíveis para qualquer um que não os "ultrarricos". Mas o impacto ainda assim é significativo: no ano passado, o número de apartamentos vendidos por US$ 10 milhões ou mais caiu em 12%, ou 189 unidades, ante 2014, e a maior parte da queda aconteceu na segunda metade do ano.

Em Londres, a tendência é ainda mais pronunciada. Os preços de imóveis de luxo no centro de Londres em geral caíram em 2015, com os declínios mais profundos em dois dos bairros mais luxuosos da cidade, Belgravia e Knightsbridge.

O número de vendas das propriedades caiu em 40% em dezembro, de acordo com a Property Vision, uma consultoria imobiliária inglesa.

ARTE

Os colecionadores de arte estão aguardando ansiosamente os resultados dos grandes leilões da metade do ano em Nova York.

O primeiro teste do mercado de arte no ano, os leilões de fevereiro em Londres, não foi o desastre que alguns temiam, mas os resultados foram tépidos, com as vendas totais caindo em 35% na Christie's e em 50% na Sotheby's.

Em uma transação muito aguardada, o financista malaio Jho Low vendeu o quadro "Tête de Femme", de Picasso, por US$ 27 milhões, o que significa que ele sofreu quase US$ 13 milhões de prejuízo desde que o adquiriu via Sotheby's por quase US$ 40 milhões, em 2013.

AUTOCONTROLE

As ações da Sotheby's espelharam os resultados de leilões recentes: depois de atingirem um pico de mais de US$ 47 em junho, elas caíram em cerca de 45%.

"Estamos vendo mais autocontrole da parte dos megacompradores", disse Evan Beard, diretor de arte da U.S. Trust, que assessora clientes de alto patrimônio.

O gelo no mercado é especialmente pronunciado para os carros clássicos, a categoria de ativos de luxo que registrou a maior disparada de preços nos 10 últimos anos (490%), de acordo com o relatório Knight-Frank recentemente divulgado.

Os grandes leilões de carros clássicos realizados a cada janeiro em Scottsdale, Arizona, foram uma decepção, com queda de 15% nas vendas ante o ano passado, o primeiro declínio desde 2010.

A Hagerty, que avalia e oferece seguros a carros antigos, afirmou que seu índice do mercado de carros de coleção norte-americano registrou em fevereiro a maior queda mensal desde a crise de 2009.

Ainda pior é o mercado de antiguidades de alto preço, até recentemente muito próspero. Os preços estão em queda há 10 anos consecutivos, como resultado da mudança de gosto e de uma virada em direção à mobília da metade do século passado ou contemporânea.

Parece que os "ultrarricos" são tão vulneráveis quanto os demais às leis da oferta e procura. Apesar de catálogos de leilões que enfatizam adjetivos como "raro" ou "único", depois da grande disparada de preços, a oferta de bens de luxo explodiu, o que levou os preços a cair.

Depois de cinco anos de preços e compras em alta, alguns compradores "ultrarricos" podem simplesmente estar sem dinheiro.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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