A Sabesp decidiu reprogramar investimentos deste ano e vai contingenciar R$ 700 milhões de seu orçamento neste ano para se concentrar na garantia de abastecimento de água em um dos momentos de maior seca atravessados pela região metropolitana de São Paulo.
A empresa ampliou nesta segunda-feira (31) o programa de incentivo à redução de consumo de água de 11 para todas as 31 cidades da região metropolitana atendidas pela companhia.
Embora não tenha divulgado o impacto da medida sobre suas finanças, a Sabesp espera que o contingenciamento ajude a manter seu caixa em posição saudável para fazer frente a investimentos.
O programa prevê desconto de 30% para o cliente que reduzir seu consumo de água em 20% segundo a média dos 12 meses anteriores.
O incentivo foi anunciado no início de fevereiro para algumas cidades atendidas pelo sistema de reservatórios Cantareira, o principal do Estado.
Mas como o nível das represas continuou caindo, o governo paulista, controlador da Sabesp, optou por ampliar o programa a partir da terça-feira (1º). Nesta segunda-feira, o nível do Cantareira estava em 13,5%.
RACIONAMENTO
Em teleconferência com analistas e jornalistas, o diretor econômico-financeiro da Sabesp, Rui Affonso, não estimou o impacto no faturamento da empresa que será gerado pela ampliação do programa.
Ele afirmou ainda que a empresa considera que a chance da região metropolitana de São Paulo não precisar de racionamento de água neste ano "é bastante significativa".
"Estamos nos programando para chegarmos até outubro sem racionamento", disse o executivo, comentando a expectativa para o período de chuvas previsto para começar entre outubro e novembro.
"Quem fala em racionamento preventivo não tem ideia do que é racionar água para 10 milhões de habitantes. É uma operação de guerra. (...) A Sabesp tem dever de evitar isso para a população a qualquer custo", afirmou o executivo.
A companhia encerrou o quarto trimestre com queda de cerca de 23% no lucro líquido na comparação anual, para R$ 590,7 milhões, num resultado considerado melhor que o esperado por analistas do UBS.
INVESTIMENTOS
Mais cedo, a empresa estimou investimentos de R$ 2,64 bilhões em 2014, de um total de R$ 12,8 bilhões até 2018.
Segundo Affonso, os "investimentos de 2014 serão reprogramados de forma que a pressão no caixa seja minimizada. Com isso, entendemos que empresa manterá robustez financeira".
Ele afirmou que o remanejamento dos investimentos vai se concentrar na oferta de água tratada e informou que a meta de universalização de tratamento de esgoto no Estado em 2020 ainda continua válida.
"Ainda temos seis anos. Uma reprogramação de ritmo de investimento é perfeitamente factível neste contexto. (...) A prioridade neste momento é abastecimento de água", afirmou o executivo.
Junto com a ampliação do programa de incentivo à redução no consumo de água, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que agência reguladora do setor no Estado, Arsesp, vai encurtar o prazo médio para reparo de vazamentos cobrado da Sabesp.
Affonso não pôde precisar de imediato o impacto da medida, mas afirmou que a empresa terá que intensificar os trabalhos de suas áreas logísticas para reduzir o tempo de reação para o reparo de redes com vazamento.
PRIORIDADE
Em entrevista coletiva à imprensa junto com o governador mais cedo, a presidente da Sabesp, Dilma Pena, informou estar preocupada com o impacto dos descontos nas contas dos consumidores sobre as finanças da empresa, mas afirmou que a prioridade é garantir o abastecimento de água.
"Obviamente, vai impactar o faturamento da empresa mas a preocupação é garantir o abastecimento", disse ela.
Segundo Affonso, ainda é prematuro pedir à Arsesp o reequilíbrio econômico e financeiro das condições de operação da Sabesp.
"Vamos fechar o ano primeiro, estamos tomando uma série de medidas para manter esse equilíbrio e aí vamos ver (...) É muito cedo para entrar em uma discussão de reequilíbrio sendo que temos um ano pela frente."
Em 10 de abril, a Arsesp deve divulgar o índice de reajuste nas tarifas da Sabesp com faturamento a partir de 11 de maio.
A empresa e a agência divergem sobre os critérios adotados para essa revisão, mas Affonso não deu detalhes sobre o nível de reajuste pretendido pela Sabesp.
Segundo Alckmin, com o programa atual de incentivo à economia de água, 37% dos consumidores atingidos pela medida ganharam o bônus na tarifa, enquanto 39% economizaram no consumo, mas não o suficiente para obter o desconto na conta de água.
Já 24% dos clientes aumentaram o consumo de água.