Folha de S. Paulo


Agência de classificação de risco S&P rebaixa nota de crédito do Brasil

A agência internacional de classificação de risco S&P (Standard & Poor's) reduziu nesta segunda-feira (24) a nota de avaliação do Brasil de "BBB" para "BBB-".

A S&P também rebaixou as notas das estatais Petrobras, Eletrobras e Samarco de "BBB" para "BBB-".

Apesar da queda, a nota do país continua no chamado grau do investimento –ou seja, de mercado considerado seguro para se investir. Mas está no menor nível dentro desse patamar, segundo os critérios de análise da agência.

Segundo a agência, o rebaixamento reflete a combinação da situação fiscal difícil no Brasil com a perspectiva de baixo crescimento nos próximos anos, além de uma piora nas contas externas.

"A perspectiva de baixo crescimento reflete fatores cíclicos e estruturais, incluindo o nível de 18% de investimentos em relação ao PIB e a desaceleração no mercado de trabalho. Combinados, esses fatores configuram a capacidade reduzida de manobra do governo no caso de choques externos", afirma o comunicado da S&P.

De acordo André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, o rebaixamento não foi uma surpresa.

"Investidores já esperavam que isso ocorresse em algum momento, o que, de certa forma, já vinha sendo embutido nos preços dos ativos brasileiros [como ações e juros]." O Ibovespa, por exemplo, principal índice da Bolsa brasileira, acumula queda de 6,82% neste ano até hoje.

Ainda na avaliação de Perfeito, a mudança da nota mostra a desconfiança da agência de risco na capacidade do governo de cumprir o que tem prometido na área fiscal e, principalmente, as políticas conflitantes na área econômica.

"Temos, por exemplo, uma política fiscal frouxa [muitos gastos do governo] e uma política monetária apertada [aumentos constantes da taxa de juros para tentar conter a inflação]", diz.

PERSPECTIVA

Mas o economista ressalta um aspecto considerado positivo no anúncio de hoje da S&P: o fato de que a perspectiva para a nota do país, agora, passou de "negativa" para "neutra".

"Isso quer dizer que o Brasil tem cerca de um ano, tempo em que a agência costuma reavaliar as notas, para mostrar que consegue fazer os ajustes de que precisa."

A expectativa de um possível rebaixamento se arrasta desde o ano passado. Na última semana, representantes da S&P se reuniram com membros do governo para discutir as perspectivas das contas públicas.

Ainda de acordo com Perfeito, o rebaixamento da nota brasileira pela S&P, como já vinha sendo "embutido nos preços" nos mercado financeiro, pode não provocar queda acentuada da Bolsa ou alta expressiva do dólar amanhã.

"É preciso esperar para ver. Talvez tenha alguma correção [com Bolsa em queda e dólar em alta] por causa do bom humor de hoje no mercado doméstico na contramão do que ocorreu em outros países."

O Ibovespa terminou o dia em alta pela sexta sessão seguida: 1,29%, para 47.993 pontos. Na Europa, as principais Bolsas caíram mais de 1%, enquanto, nos Estados Unidos, os mercados tiveram perdas entre 0,1% e 1,2%.

No câmbio, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, cedeu 0,12%, para R$ 2,320, no sexto dia de baixa.

HISTÓRICO

A expectativa de um possível rebaixamento se arrasta desde junho do ano passado, quando a agência colocou a nota brasileira em observação.

As notas de crédito atribuídas pelas agências de classificação de risco têm impacto sobre o custo da dívida de empresas e países. Quanto melhor a classificação, menor tende a ser o desembolso com os juros dos financiamentos, e vice-versa

A S&P foi a primeira agência a elevar o Brasil ao nível de grau de investimento, em 2008, tirando o país da lista de economias consideradas "especulativas".

Outras agências (veja gráfico) também classificam o país como grau de investimento. A Fitch atribui nota "BBB" (penúltima dentro desse nível) e a Moody's avalia o país como "Baa2" (também penúltima no nível da agência)

Apesar das críticas aos erros das agências de risco na crise econômica mundial, essas avaliações ainda servem de parâmetro para grande parte do mercado internacional.

Editoria de Arte/Folhapress

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