Folha de S. Paulo


Apartamentos de R$ 300 mil por m² em Nova York atraem estrangeiros

Caminhando até as janelas que oferecem vista para o Central Park, no coração de Manhattan, Gary Barnett abre os braços para abarcar a vista do apartamento no 87º andar de um arranha-céu.

Percebendo o suspiro do visitante, ele abre um sorriso. "É isso que queremos: ouvir esse 'uau'."

O fator "uau" é parte do apartamento de 570 m² que ocupa todo um piso do One57. Equipado com uma suíte master com banheira de mármore italiano, está à venda por US$ 67 milhões (R$ 160 milhões).

Ou, para expressar de outra maneira, quase US$ 120 mil (R$ 282 mil) por metro quadrado. Por. Metro. Quadrado.

Caro demais? Alguns andares abaixo há um parecido "por apenas US$ 55 milhões", diz Barnett.

Em termos relativos, o preço do apartamento é praticamente uma pechincha.

Apesar de os preços estarem chegando à estratosfera, Manhattan continua relativamente barata se comparada a outras metrópoles cosmopolitas do planeta.

No ano passado, um apartamento na Tour Odéon, em Mônaco, foi vendido por US$ 97 mil/m². Um comprador pagou pouco menos, US$ 95 mil/m², por um apartamento no Opus Hong Kong.

E, no oeste de Londres, o preço médio dos 86 apartamentos do One Hyde Park está acima dos US$ 105 mil/m², segundo a consultoria imobiliária britânica Knight Frank.

No One57, William Ackman, o rei dos fundos de hedge, é parte de um grupo de investidores que está pagando mais de US$ 90 milhões (US$ 73 mil/m²) pelo duplex de 1.240 m² no 75º e 76º andares do edifício, conhecido como "jardim de inverno".

No lado leste de Midtown, na Park Avenue 432, uma torre tem preços da ordem de US$ 75 mil/m².

Essa nova safra de edifícios de altíssimo luxo em Nova York -tão altos que tiveram de ser aprovados pela Administração Federal da Aviação- atraiu financistas de Wall Street, executivos de grandes companhias e investidores estrangeiros.

Analistas estimam que a porcentagem de compradores estrangeiros para os imóveis de Manhattan tenha saltado para de 30% a 40% do valor total das vendas, o dobro da média de longo prazo.

Em um novo projeto como o One57, os estrangeiros costumam responder por metade das compras.

Compradores da China adquiriram 15% das unidades do edifício; uma companhia chinesa comprou quatro apartamentos.

Divulgação/'The New York Times'
Folheto do residencial 56 Leonard
Folheto do residencial 56 Leonard

EXPLOSÃO DE PREÇOS

Manhattan sempre atraiu bom número de viajantes internacionais que não se incomodam em pagar até US$ 10 milhões por um apartamento no Upper East Side. Mas agora houve uma
explosão de preços para os apartamentos de mais alto luxo.

Um dos motivos para isso é simplesmente a oferta escassa para os ricos e famosos. Não existe muito espaço livre em Manhattan que sirva para essa espécie de projeto, cujo planejamento e construção pode facilmente requerer mais de uma década.

Com a crise na Europa e a inquietação política mais intensa em diversos pontos do planeta, bilionários estrangeiros e americanos estão buscando lugares mais seguros para seus ativos. Nova York, dizem os analistas, parece uma aposta bem segura.

"Estamos construindo o equivalente a cofres bancários de depósito no céu, nos quais os compradores podem deixar seus bens mais valiosos sem que seja necessário visitar constantemente o lugar", disse Jonathan Miller, da Miller Samuel, consultoria de avaliação de imóveis.

"Não estamos dando conta", diz Elizabeth Sample, consultora imobiliária sênior e corretora associada da Sotheby's International Realty. "Estamos trabalhando com dez compradores estrangeiros diferentes no momento."

Segundo ela, é "um influxo de gente de Londres", acompanhados por "compradores do Brasil e Israel". "Os chineses estão de volta, bem como os japoneses", diz. Também há muitos "príncipes e reis" do Oriente Médio, além dos russos.

Os internacionais do mundo moderno, dizem os analistas, estão em busca de um lugar seguro onde estacionar ativos. Querem um investimento com pouca chance de perder valor com o tempo, e que possa até se valorizar.

No Park Avenue 432, um comprador incógnito pagou US$ 95 milhões por um apartamento de 750 m².

Ao preço de mais de US$ 127 mil/m², o apartamento não inclui uma unidade grande de armazenagem no subsolo (o que custaria mais US$ 190 mil) ou uma das adegas de 11 m² disponíveis para os compradores por US$ 320 mil a unidade.

Projetado por Rafael Viñoly, o 432 Park será o mais alto edifício residencial do hemisfério ocidental, quando completado, se erguendo a quase 420 metros por sobre Manhattan. As vendas começaram no ano passado e 50% das unidades já foram vendidas.

Um terço dos compradores é de estrangeiros, primordialmente do Reino Unido, América do Sul, China, Oriente Médio e Rússia.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página: