Folha de S. Paulo


Banco brasileiro sobreviveria a crise imobiliária superior à dos EUA, diz BC

Os bancos brasileiros sobreviveriam a uma crise imobiliária superior à experimentada pelos Estados Unidos no fim da década passada em termos de desvalorização dos imóveis residenciais, de acordo com simulação do Banco Central.

Uma queda de 33% nos preços em um único dia no Brasil, por exemplo, não deixaria nenhuma instituição com problema de capitalização. Esse percentual corresponde à desvalorização verificada nos EUA entre abril de 2006 e maio de 2009.

Somente uma queda nos preços de 55% levaria à insolvência bancária e, mesmo assim, de apenas um banco, de acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira divulgado nesta quinta-feira (20).

Entre os fatores que explicam esses resultados estão, por exemplo, duas características do sistema nacional: valor médio de entrada de 30% do imóvel nas operações, o que melhora a relação entre dívida e garantia, e uso do sistema de amortização constante (SAC), que leva à redução mais rápida do saldo devedor.

Também contribuem o fato de os bancos terem reservas contra calotes superiores ao mínimo exigido e um nível de capital elevado.

BOLHA

Apesar de ter feito a simulação, o BC diz que não acredita em bolha imobiliária no Brasil.

"Não há nenhum dos elementos que podem caracterizar bolha. Não temos subprime, não temos segunda hipoteca, tivemos aumento significativo na renda e o crédito imobiliário ainda é pequeno em relação ao PIB, em torno de 8%", afirmou o diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles.

Meirelles afirmou também não acreditar que após a Copa do Mundo haverá uma mudança grande nos preços dos imóveis, como citam alguns analistas.

"Há uma discussão sobre o assunto e a gente precisa responder com dados concretos e testes robustos de simulações", afirmou. "Se houvesse uma hecatombe nos preços, mesmo assim as nossas instituições financeiras seriam capazes de absorver esse choque."

LUCRO

O relatório também mostrou que a desaceleração do crédito no ano passado afetou o ganho dos bancos, que aumentaram esforços para cortar despesas administrativas e para aumentar a venda de serviços.

O lucro líquido do sistema financeiro nacional cresceu de R$ 59,6 bilhões nos 12 meses encerrados em junho de 2013 para R$ 60,6 bilhões em todo o ano passado. As despesas administrativas recuaram R$ 4,7 bilhões na mesma comparação. As receitas com serviços aumentaram R$ 4,3 bilhões. O ganho bruto com intermediação financeira caiu R$ 3,8 bilhões.

No relatório, o BC diz ainda que mesmo diante do cenário de redução na liquidez global, provocado pela retirada dos estímulos de política monetária nos Estados Unidos, o sistema financeiro brasileiro se manteve com "baixo risco de liquidez e elevada resiliência" no segundo semestre de 2013.

"A solvência do sistema permanece em patamar elevado e os resultados dos testes de estresse concluem pela adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos, inclusive aqueles de extrema deterioração das condições macroeconômicas", diz o BC.

A expectativa da instituição é que esses resultados positivos se mantenham ao longo do semestre atual.


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