Em um movimento raro na cúpula de uma companhia de capital aberto, o conselheiro da Petrobras Mauro Cunha entrou com reclamação na CVM contra a empresa que ajuda a administrar.
O objetivo da iniciativa, encaminhada na segunda-feira, era exigir que a estatal tornasse pública sua decisão de não aprovar as demonstrações financeiras da empresa.
O resultado prático da iniciativa foi visto no fim daquele dia, quando a Petrobras, pela primeira vez, revelou o voto descontente de um conselheiro em relação à aprovação de suas contas.
Não se tem registro de outro conselheiro ter ido à CVM reclamar da Petrobras pelo menos nos últimos 20 anos.
Cunha assumiu a cadeira destinada aos acionistas minoritários detentores de papéis ON em abril de 2012.
As demonstrações financeiras foram submetidas ao conselho em 25 de fevereiro, antes da divulgação pública.
Segundo a Petrobras, Cunha reclamou do pouco tempo dado para que as informações fossem avaliadas, do uso da chamada contabilidade de "hedge" e da consolidação de informações sobre investimentos em refino.
A contabilidade de "hedge" é uma fórmula aceita internacionalmente pela qual as empresas com grande exposição a moedas estrangeiras reduzem o impacto da variação cambial em seus negócios.
A Petrobras lançou mão do artifício a partir de maio de 2013. O impacto é calculado em R$ 8 bilhões no balanço da empresa.
"O lucro de R$ 23,6 bilhões só foi possível graças ao uso do mecanismo. Sem ele, o resultado viria abaixo dos R$ 21 bilhões de 2012", afirma Flávio Conde, analista-chefe da Gradual Investimentos.
Procurados, nem a Petrobras nem o conselheiro Mauro Cunha quiseram comentar o assunto.