Folha de S. Paulo


Marcas deveriam liberar comentário negativo nas redes

O publicitário Hugo Rodrigues, vice-presidente de operações das agências Publicis, defendeu, durante a segunda rodada do Arena do Marketing, que as empresas se apresentem de forma mais transparente nas redes sociais, sem mediação de comentários negativos.

"As marcas não deveriam ter medo das críticas, mas, sim, da indiferença", diz Rodrigues. "Achar que você vai entrar na rede sem receber nenhuma crítica é utopia. Claro que a marca tem que ter mais vitórias do que derrotas, mas nem Deus é unânime. Seria mais saudável, para as marcas, permitir as críticas."

Rodrigues foi o segundo convidado do Arena do Marketing, evento mensal organizado pela Folha em parceria com a faculdade ESPM. O programa é voltado para debater as mudanças no universo da publicidade no Brasil.

Para Rodrigues, quando as empresas se abrem para as críticas, elas dão espaço para defensores reais. "Tem muita gente que se dói por uma marca", diz ele, que considera que em mercados mais maduros, como a Europa e os EUA, as companhias são mais abertas a comentários negativos de consumidores.

"No Brasil, temos um lado meio provinciano, tomamos tudo para o lado pessoal. Mas temos de ver que o cara está criticando, mas está ali, engajando com a sua marca." Ele diz, contudo, que não vê, no Brasil, marcas considerando a possibilidade de não ter mediador nas redes sociais.

Mediado pelo jornalista Morris Kachani, o bate-papo foi gravado ontem no estúdio da ESPM, em São Paulo, e contou com a presença do coordenador do curso de Comunicação Social, Paulo Roberto Cunha.

Bruno Leite/Divulgação
Da esq. para a dir., Paulo Roberto Cunha (ESPM), Morris Kachani e o publicitário Hugo Rodrigues
Da esq. para a dir., Paulo Roberto Cunha (ESPM), Morris Kachani e o publicitário Hugo Rodrigues

CLASSE C

Rodrigues falou também sobre a comunicação para a nova classe C. "Vivemos num país que prefere Lepo Lepo a Chico Buarque e isso tem que ser respeitado."

Na sua opinião, a publicidade voltada para a classe C é necessariamente mais simples, pois há um problema sério no país de analfabetismo funcional (quando há dificuldade de interpretar textos).

"Se você simplifica a mensagem, você conversa com todo mundo. Mas você também empobrece a comunicação, e a criatividade sofre."

Para Rodrigues, a publicidade precisa informar e ajudar as pessoas a fazer escolhas. "Quando você tem múltiplas escolhas, fica mais vulnerável a outros impactos. E uma comunicação que fala de uma promoção, de um produto que traz vantagens, pode ser útil."

A necessidade de falar com a classe média explica, na sua avaliação, a presença maciça das celebridades nos comerciais. "Elas estão em todos os comerciais. Por quê? Porque todo o mundo gosta de fofoca. Todo o mundo, em algum momento, pega uma revista de celebridade, nem que seja escondido no banheiro. Temos de respeitar o gosto do consumidor."

Na sua visão, as marcas precisam entender melhor o consumidor, seus gostos e preferências. "As marcas, as agências e os clientes ouvem muito pouco o consumidor real, pois quem comanda as empresas e as agências têm gostos muito diferentes do gosto do consumidor", diz.

"Não conheço ninguém que assiste a `Zorra Total', mas é um programa de audiência altíssima. Temos de sair das grandes capitais e ir para a Feira de Dourados (MS), que é frequentada por gente muito rica e simples."

A próxima edição do Arena acontece em abril. Leitores que quiserem acompanhar o próximo debate ao vivo no estúdio da ESPM podem se inscrever por email (eventofolha@grupofolha.com.br). O evento pode ser acompanhado ao vivo pelo link www.espm.br/live.


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