Folha de S. Paulo


Governo altera risco de faltar energia elétrica de 'baixíssimo' para 'baixo'

O Ministério de Minas e Energia divulgou uma nota nesta quarta-feira (12) em que considera o risco de desabastecimento no país como "baixo".

Em 13 de fevereiro, última vez que a pasta publicou nota sobre o assunto após reunião do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), esse risco havia sido considerado como "baixíssimo".

O texto foi lido à imprensa pelo secretário de Energia Elétrica do ministério, Ildo Grüdtner, que, assim como fez no início de fevereiro, leu a nota e saiu sem responder as perguntas dos jornalistas.

No mês passado o texto dizia: "Portanto, a não ser que ocorra uma série de vazões pior do que as já registradas, evento de baixíssima probabilidade, não são visualizadas dificuldades no suprimento de energia no país em 2014".

Hoje, o trecho também estava na nota divulgada –apenas a palavra "baixíssima" foi trocada, para "baixa".

A mudança ocorre no mesmo dia em que o ONS (Operador Nacional de Energia Elétrica) informou que, com o forte calor na maior parte do país, o consumo de energia cresceu acima da média em fevereiro.

O aumento da carga foi de 7,8% na comparação com fevereiro de 2013. O percentual supera os 3,7% acumulado nos últimos 12 meses.

A carga de energia, medida pelo ONS, é toda a produção das usinas hidrelétricas, termelétricas, eólicas e outras destinadas a atender ao consumo, incluindo as perdas ao longo do sistema de transmissão.

Segundo o operador, o incremento da carga "deve-se principalmente pela ocorrência de temperaturas elevadas e escassez de chuvas resultando no uso intensivo de aparelhos de refrigeração".

SEM CHUVAS

No texto lido pelo secretário, o governo diz que o sistema elétrico "apresenta-se estruturalmente equilibrado, com sobras, em termos de balanço energético geração e transmissão" e explica que o início do período úmido de 2014 caracterizou-se pela "presença persistente de um sistema de alta pressão no oceano, que vinha impedindo o avanço de frentes frias vindas do Sul. Com isso não ocorreram chuvas previstas nas principais bacias hidrográficas, onde se localizam os reservatórios das hidrelétricas".

A pasta diz que desde a segunda quinzena de fevereiro, esse fenômeno climático "vem se enfraquecendo", provocando chuvas "fracas" nas bacias hidrográficas da região Nordeste, "fracas e moderadas" nas regiões Sudeste/Centro-Oeste e "médias" nas regiões Sul e Norte.

Por fim, o governo diz que os reservatórios estão atravessando uma "situação climática conjuntural desfavorável até esse momento", mas que o sistema dispõe "das condições de equilíbrio estrutural necessárias para o abastecimento do país".

Mais cedo, o diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Hermes Chipp, havia dito que simulações feitas pelo órgão são capazes de indicar que o país não corre risco de ficar sem energia.

"Apenas se vier um regime de chuvas pior que toda a série histórica", afirmou.

Apesar da hidrologia ter registrado, em janeiro e fevereiro, a pior situação dos últimos 80 anos, o governo vem identificando uma melhora ao longo do mês de março.

REPASSE

O governo informou que vai repassar para o consumidor, ao longo de cinco anos, a conta do socorro que foi dado na última sexta-feira (7) para as distribuidoras de energia elétrica, de R$ 1,2 bilhão.

Essas empresas estavam com dificuldades de caixa para bancar o custo extra da energia gerada pelas termelétricas.

A energia está sendo usada por causa da forte seca que atingiu o país no início do ano e impediu a recuperação dos níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas. Para suprir a deficiência dessa geração, todas as térmicas, que são mais caras e poluentes -usam carvão, gás e óleo combustível-, tiveram de ser ligadas.

"Da mesma forma como foi feito no ano passado, a antecipação que o Tesouro fez na conta CDE (Conta de Desenvolvimento Energético, espécie de fundo do setor), é claro, seria paga em até cinco anos", disse o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, nesta quarta-feira.

De acordo com Zimmermann, "o decreto alterou algumas cláusulas, mas mantém a mesma característica do decreto do ano passado", quando esse tipo de ajuda às elétricas também foi dada.

Em 2013 essa conta ficou perto de R$ 10 bilhões e os repasses, que deveriam começar a recair sobre as tarifas neste ano, foram segurados pelo governo, para não aumentar o preço da energia.

Agora, esse repasse de 2013 irá ocorrer em um prazo menor, entre 2015 e 2018.

O governo ainda não decidiu se continuará prestando socorro a essas empresas ao longo deste ano e quanto vai pagar por mês.


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