Folha de S. Paulo


'Sardinhada' adiou reunião de Mantega com empresários

Uma "sardinhada" planejada por sindicalistas da Força Sindical foi o motivo para o adiamento da reunião que o ministro Guido Mantega (Fazenda) teria com grandes grupos empresariais, na terça-feira (11), em São Paulo.

O churrasco de sardinhas, parte de uma manifestação pela manutenção da política de reajuste do salário mínimo e pela correção da tabela do Imposto de Renda, ocorreria em frente ao restaurante em que seria a reunião.

O governo remarcou o encontro para esta quarta-feira (12), na sede do Ministério da Fazenda, em Brasília, porque acredita que conseguirá administrar melhor a manifestação.

A Força Sindical promete reunir um grupo de 200 manifestantes, que também vão assar sardinhas em frente à sede da Fazenda, mas os empresários poderão usar uma entrada particular,
evitando os manifestantes, o que não seria possível em São Paulo.

Até terça-feria à noite, 18 empresários haviam confirmado presença, entre os quais Murilo Ferreira (Vale), Jorge Gerdau (Gerdau) e Marcelo Odebrecht (Odebrecht).

FILIAIS NO EXTERIOR

Na reunião, a Fazenda já vai abrir negociações com os empresários em relação à nova legislação sobre tributação de filiais de empresas brasileiras no exterior.

A princípio, a reunião debateria apenas a conjuntura econômica. A ideia do ministro era abrir a palavra para todos os empresários falarem de inflação, investimentos e crescimento da economia.

Segundo seus assessores, ele pretendia ouvir mais do que falar, como parte do movimento do governo de se aproximar das empresas e reduzir as críticas a sua política econômica.

Agora, um dos pontos principais da reunião será a MP 627, incluída na agenda da reunião porque a nova lei, de forte impacto para as multinacionais brasileiras, tem gerado reações.

Os empresários querem convencer o governo a ceder em alguns tópicos, como no prazo para o pagamento dos tributos e na fatia do lucro lá fora que será tributada.

Jaélcio Santana/Divulgação
Sindicalistas preparam sardinhas na av. Paulista, em São Paulo
Sindicalistas preparam sardinhas na av. Paulista, em São Paulo

Da forma como está hoje, os investimentos feitos pelas filais também são alvo de tributos, o que difere da forma como o assunto é tratado pela maioria dos demais países.

Para os empresários, isso mina a competitividade das companhias brasileiras. O governo está disposto a negociar alguns pontos das novas regras, em vigor desde o ano passado. A legislação está em debate no Congresso.

Eles querem preservar a mudança feita pelo relator da MP no Congresso, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que ampliou de cinco para oito anos o prazo para o pagamento dos impostos devidos.

Os empresários temem que a crise do governo com o PMDB contamine as negociações. Cunha é o principal articulador da rebelião dos parlamentares contra o governo.

O cancelamento de uma reunião entre Cunha e o secretário-executivo-adjunto do Ministério da Fazenda, Dyogo Oliveira, para falar do tema, agendada para anteontem, aumentou essa ansiedade, apurou a Folha.

"EXCLUÍDOS"

A reunião com grandes grupos ministeriais provocou protestos de associações que reúnem pequenas e médias indústrias, como a Abimaq, do setor de máquinas.

Segundo eles, o encontro é um "ato político" e não resolve os problemas da indústria.


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