"Ô Batista, o que é esse X?", pergunta o cliente ao ver o nome da barraca "Batista 81X" na praia de Ipanema. "É o X do Eike. Ele usa para multiplicar os negócios dele, meti o X para multiplicar o meu", responde o comerciante.
O diálogo que o jornalista Sergio Leo escolhe para abrir o seu livro "Ascensão e Queda do Império X", da editora Nova Fronteira, ilustra o fascínio exercido pelo ex-bilionário Eike Batista.
Eike sempre foi "notícia": primeiro, por ter sido marido da modelo Luma de Oliveira, depois, pela sua ambição de se tornar o homem mais rico do mundo, e mais recentemente pelo desmantelamento de seus negócios.
Dois livros chegaram ao mercado para aproveitar o burburinho em torno da quebradeira do empresário. Além da obra acima, também foi lançado, pela editora Matrix, "Eike, A Derrocada do Homem Mais Rico do Brasil", do jornalista Felipe Moreno.
A trajetória de Eike, que transformou US$ 34 bilhões em pó, é digna de um roteiro de cinema, com direito a cenas com mulheres maravilhosas, empresários poderosos e governantes corruptos. Mas nem por isso a tarefa é fácil e nenhum dos dois livros atende 100% das expectativas.
O livro de Leo é mais completo, sem ser longo demais. Em 264 páginas e 19 capítulos, conta as excentricidades de Eike e descreve a trajetória de suas empresas.
É meritório o trabalho de pesquisa do autor, que recorda o passado de fracassos do empresário, que vão desde a tentativa de explorar minas na Grécia às falências da empresa de encomendas regionais e da fábrica de jipes.
Fica evidente que os investidores poderiam ter evitado perder tanto dinheiro se prestassem mais atenção na trajetória de Eike do que em suas frases de efeito.
Outro capítulo interessante conta um pouco das relações entre Eike e o poder. Dilma Rousseff, que não tem boas relações com o setor privado, chegou a atrasar uma viagem ao exterior para uma conversa com ele.
O livro, no entanto, revela pouco sobre a fase mais recente da trajetória do empresário. A história da OGX -a estrela das empresas de Eike- ganha apenas dois capítulos. Faltam bastidores e informações exclusivas sobre a quebra da empresa que arrastou Eike para o abismo.
Personagens importantes, como o geólogo Paulo Mendonça (que conduziu à OGX para a ruína com suas previsões exorbitantes de produção de petróleo), o banqueiro André Esteves (que tentou salvar o império X) e o consultor Ricardo K (que comanda a reestruturação do grupo), são citados marginalmente. As versões dessas pessoas e do próprio Eike sobre o que aconteceu fazem falta.
O livro de Moreno é menos ambicioso. Quase metade de suas páginas é dedicada a explicar como funciona o mercado de ações, com pinceladas sobre a experiência da OGX. A outra metade reconta a trajetória de Eike com base no que saiu na imprensa.
Um dos méritos da obra é apontar que os analistas faziam previsões otimistas sobre a OGX com base nos dados que a própria empresa divulgava, sem nenhum trabalho de verificação. E, uma vez que esses dados estavam incorretos, as análises não serviram para nada.
Não há muitas entrevistas com as pessoas envolvidas na derrocada de Eike. A maioria dos analistas ouvidos dá sua opinião sobre o que "acha" que aconteceu, e não sobre o que efetivamente ocorreu com as empresas X.
Para quem não seguiu a ascensão e a queda de Eike Batista pelos jornais, revistas e até pela TV, os livros valem a leitura, porque organizam o turbilhão de notícias que saiu nos últimos tempos. Mas o público mais qualificado, que já seguia cada capítulo da novela em que se transformou a vida do empresário, pode ficar decepcionado com a falta de informações novas.
"Ascensão e queda do império X"
AUTOR Sergio Leo
EDITORA Nova Fronteira
QUANTO R$ 39,90 (264 págs.)
AVALIAÇÃO Bom
"Eike - a derrocada do homem mais rico do Brasil"
AUTOR Felipe Moreno
EDITORA Matrix
QUANTO R$ 25,60 (135 págs.)
AVALIAÇÃO Regular