Folha de S. Paulo


Brasil quer acelerar acordo do Mercosul com UE, diz Dilma a empresários

Sob cobrança de setores da indústria e do agronegócio por um acordo com os europeus, a presidente Dilma Rousseff deve sinalizar hoje em Bruxelas que o Brasil está disposto a acelerar um acordo de livre comércio do Mercosul com a União Europeia.

Além disso, a presidente vai dizer que seu governo quer estreitar as relações com o bloco independentemente dos colegas regionais.

Dilma chegou ontem à Bélgica para a Cúpula Brasil-União Europeia. Terá encontros com dirigentes europeus, entre eles José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.

Ela chega com a missão também de acalmar os ânimos dos países da UE, que recentemente entraram na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra as políticas de incentivo do governo brasileiro à indústria local, o que, alegam, restringe a competitividade.

Ontem, em jantar com cerca de 30 empresários brasileiros num hotel em Bruxelas, a presidente ouviu apelos para que o Brasil acelere as negociações de livre comércio com os europeus. Eles alegam que a demora do Mercosul em chegar um consenso de proposta única atrapalha os planos dos setores brasileiros.

"Ela disse que estamos muito próximos de um acordo no Mercosul", afirmou Robson Andrade, da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

"A presidente não escondeu que existem dificuldades, mas mostrou que há um empenho do Brasil", disse o presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Fernando Pimentel.

Entre as lideranças que jantaram com Dilma estava também a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

ACORDO

Há uma expectativa de que os países do Mercosul cheguem a um consenso em março para apresentar uma proposta única de acordo comercial com a UE. Um fator da pressa é a eleição do Parlamento europeu, em maio, que pode influenciar nas negociações.

A troca de ofertas entre Mercosul e UE deveria ter ocorrido até o fim do ano passado, mas tem sido protelada. Um dos principais entraves é a Argentina, que, em meio à sua crise econômica, resiste em pontos da negociação. Os europeus, por sua vez, também já colocaram obstáculos a um acordo. "Há dificuldades também do lado deles", diz o presidente da Abit.

Dilma não tem aval para falar hoje em Bruxelas em nome do Mercosul. Por outro lado, sabe que é uma oportunidade de deixar um caminho aberto de diálogo com a UE caso as conversas conjuntas com os parceiros sul-americanos emperrem.

Já se fala nos bastidores do governo da possibilidade de o Brasil apresentar uma espécie de Plano B, uma proposta única, com redução de tarifas de importação diferentes dos demais colegas regionais.

Ou seja, mesmo que evite tratar oficialmente sobre Mercosul, para evitar atritos com os colegas de bloco, Dilma deve deixar claro que a posição brasileira é por um acordo o quanto antes com a Europa.

O primeiro passo hoje deve ser a assinatura de acordos na área empresarial, tratando de investimentos, normatização de produtos e competitividade.


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