Folha de S. Paulo


Bolsa cai 2% pressionada por siderúrgicas, construtoras e elétricas

A Bolsa brasileira fechou em baixa nesta terça-feira (18) pressionada pela forte queda sofrida por ações de construtoras, siderúrgicas e elétricas, diante de um maior pessimismo dos investidores com o Brasil.

O Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, registrou queda de 2,05%, aos 46.599 pontos. O volume financeiro no pregão foi de R$ 6,88 bilhões.

Pesou sobre a Bolsa um pessimismo maior dos investidores com o Brasil, na avaliação de Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest Título Corretora. "Há uma aversão maior dos investidores. Os emergentes não têm apresentado nenhum atrativo para os investidores de uma maneira geral", afirma.

Especificamente em relação ao Brasil, o mercado questiona a capacidade do governo de fazer os ajustes necessários em sua política fiscal em ano eleitoral. Nesta semana deve ser anunciada a meta para o superávit primário –economia para abatimento da dívida pública– de 2014.

Vale lembrar que, em 2013, o governo conseguiu poupar R$ 91,3 bilhões, ou 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. A expectativa é que a meta de economia deste ano fique em torno de 2% do PIB.

"O mercado hoje está observando o governo com olhos pessimistas, e não sem razão. Não vejo com muita esperança essa divulgação [do Orçamento]. Se o governo tentar agradar o mercado, a meta pode ser encarada como algo irreal. Se colocar o objetivo mais para baixo, pode ser encarado como a continuidade de uma política fiscal mais frouxa", afirma Leandro Ruschel, diretor da escola de investimentos Leandro & Stormer.

Na Bolsa, a maior queda foi registrada pelas ações da construtora PDG Realty, que caíram 8,93%. MRV Engenharia perdeu 7,07% e Gafisa teve baixa de 6,05%.

As ações de siderúrgicas como Usiminas, Gerdau e CSN também ajudaram a afundar o índice. Os papéis preferenciais da Usiminas caíram 7,88%, os de mesmo tipo da Gerdau perderam 5,47% e as da CSN registraram baixa de 4,43%.

"Há uma correção das siderúrgicas para baixo. Mas está exagerado", afirma André Moraes, analista da corretora Rico.com.vc. Só a Usiminas já acumula queda de 12,82% nesses dois dias.

Os papéis de Light (-6,30%) e os preferenciais da Eletrobras ( -5,13%) também tiveram forte queda. "As ações estão caindo com vigor por conta da dúvida de como fecha a conta das distribuidoras com as térmicas ligadas", afirma Felipe Miranda, da consultoria Empiricus Research.

PETROBRAS

As ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas, fecharam em baixa de 2,22%, a R$ 14,11, enquanto as ordinárias caíram 1,34%, a R$ 13,29.

A petrolífera tem sido bombardeada com uma série de notícias ruins, afirma Miranda. Uma das mais recentes é a ameaça da criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar a denúncia de suborno de funcionários da estatal.

"Sempre há um motivo a mais para se instalar um pessimismo em cima de uma empresa que vem sendo bombardeada por notícias ruins", diz o analista da Empiricus Research.

A CGU (Controladoria-Geral da União), órgão do governo federal de combate à corrupção, também pediu na semana passada informações à Petrobras sobre contratos da estatal com a empresa holandesa SBM Offshore.

Hoje, a presidente da Petrobras, Graça Foster, anunciou que a empresa concluirá em até 30 dias a auditoria interna que está investigando as denúncias de pagamento de propina a funcionários da petroleira pela fornecedora.

DÓLAR

O sentimento de aversão dos investidores aos países emergentes também respingou no dólar nesta terça-feira.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, avançou 0,19%, para R$ 2,389. No mesmo horário, o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 0,37%, a R$ 2,397.

As principais moedas emergentes caíram em relação à divisa americana nesta terça-feira, diante de um cenário de maior preocupação mundial com ativos de países em desenvolvimento.

Das 24 moedas emergentes mais negociadas, 20 registraram desvalorização ante a moeda americana. Apenas Coroa Tcheca (0,63%), Novo leu romeno (0,53%), Lev búlgaro (0,43%) e Zloty polonês (0,39%) subiram ante a divisa dos EUA.

Para Newton Rosa, economista-chefe da administradora de recursos SulAmérica Investimentos, o mau humor dos investidores em relação aos emergentes é agravado por notícias ruins da China. O país cortou sua meta para produção industrial de 10% para 9,5% em 2014. "Isso tudo aponta uma desaceleração e para uma perda de vigor da economia do país e contribui para o enfraquecimento das moedas emergentes como um todo", afirma.

O banco central chinês também ajudou a agravar o mau humor dos investidores, ao retirar, pela primeira vez em oito meses, 48 bilhões de yuans (US$ 7,9 bilhões) em fundos do sistema bancário.

Já o banco central do Japão prorrogou programas com o objetivo de estimular o empréstimo bancário e o crescimento bancário, enquanto a maioria das outras Bolsas asiáticas perdeu força após sólidos ganhos nas últimas sessões.

Mais cedo, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, participou de uma teleconferência com jornalistas estrangeiros. Tombini afirmou que a autoridade monetária tem feito o "dever de casa" para controlar a inflação.

Para analistas, as declarações de Tombini no encontro sinalizam uma redução do ritmo de alta da taxa básica de juros (Selic). Na conversa, o presidente do BC destacou os resultados do impacto da transmissão monetária sobre os preços, o recuo da inflação e a convergência dos preços à trajetória de metas.

"Isso tudo aumentou a aposta da redução do ritmo de alta dos juros de 0,50 ponto percentual para 0,25 ponto percentual", afirma Velho, que vê a Selic encerrando o ano a 11%.

De acordo com ele, no entanto, há condições para a Selic encerrar 2015 a 12% ao ano.

"A ausência de um ajuste fiscal restritivo e a depreciação do real superior a 15% até dezembro elevariam o potencial da alta da Selic para 12%, com o início do novo ciclo de aperto na reunião do Copom de dezembro, após a realização do segundo turno das eleições", Velho.

Nesta quarta-feira será divulgada a ata do último Fomc (comitê de política monetária do Fed, banco central americano). Para Newton Rosa, economista-chefe da administradora de recursos SulAmérica Investimentos, o documento não deve influenciar o dólar. "Não vejo a ata mexendo muito com as moedas, na medida em que não vai trazer novidade, pois a Janet Yellen já se pronunciou", afirma. Yellen fez, no último dia 11, seu primeiro discurso na Câmara dos Deputados dos EUA como presidente do Fed (banco central americano).

O Banco Central deu continuidade a suas intervenções diárias e vendeu 4.000 contratos de swap cambial tradicionais -equivalentes à venda futura de dólares. Todos os novos contratos vencem em 1º de dezembro deste ano, com volume equivalente a US$ 198,1 milhões. A autoridade monetária também ofereceu contratos com vencimento em 1º de agosto, mas não vendeu nenhum.

A autoridade monetária também vendeu os 10.500 contratos de swap em mais um leilão para rolar os vencimentos de 5 de março. Com isso, o BC já rolou aproximadamente 63% do lote para o próximo mês, que equivale a US$ 7,378 bilhões.


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