Folha de S. Paulo


Índia eleva taxa de juros para combater inflação

A Índia elevou inesperadamente a taxa de juros nesta terça-feira (28) para frear a inflação, afirmando que agora está melhor preparada para lidar com o risco de grandes saídas de capital.

O banco central da Índia, entretanto, afirmou que se a inflação do varejo aliviar como projetado, não prevê mais aperto da política monetária no curto prazo.

A rupia indiana despencou 11% no ano passado depois que o banco central dos Estados Unidos anunciou que iria reduzir seu agressivo programa de compra de títulos que havia alimentado a demanda global por ativos de risco.

As expectativas de que o Federal Reserve fará nova redução nesta semana renovou a pressão sobre as economias emergentes, embora a rupia tenha tido desempenho melhor do que outras moedas desta vez.

O aumento de 0,25 ponto percentual na taxa de juros da Índia deveu-se às expectativas de inflação ao consumidor alta mas moderada, uma indicação de que o banco central pretende adotar uma estratégia de basear suas decisões sobre juros em metas para os preços ao consumidor.

RITMO LENTO

O presidente do BC indiano, Raghuram Rajan, enfrenta o desafio de reanimar uma economia que cresce no ritmo mais lento em uma década, ao mesmo tempo em que enfrenta a alta dos preços, especialmente de alimentos, devido a uma escassez de oferta que está além do controle da política monetária.

O BC indiano elevou sua taxa de juros para 8%, em meio a preocupações do mercado com a desaceleração do crescimento na China e a perspectiva de mais redução do estímulo norte-americano.

"Injetamos um pouco de remédio, 0,75 ponto percentual em altas desde setembro, e precisamos observar para ver como esse remédio funciona junto com, de novo, a fraqueza da economia e a estabilização da rupia", disse Rajan.

EMERGENTES

A Índia não é o único emergente que passa por problemas de desvalorização da moeda. Ontem, mercados emergentes fecharam em queda nos pregões pelo terceiro dia consecutivo.

O real se desvalorizou pela quinta sessão seguida ante o dólar, a R$ 2,42, patamar que não era visto desde 22 de agosto do ano passado, quando o Banco Central anunciou que faria leilões diários para frear a alta da moeda americana.

Problemas recentes na Argentina, na Tailândia e na Ucrânia elevaram os temores de um contágio financeiro, revivendo as crises financeiras do fim dos anos 1990.

"Nós já vimos esse filme", afirmou Dominic Rossi, executivo do fundo Fidelity, com sede em Cingapura. "Um emergente após o outro fica encalhado na praia quando a maré baixa. Os mais fracos, Argentina e Turquia, primeiro, seguido por Brasil, Rússia e outros", completou.

A visão do analista, porém, não é consenso. "Ainda não é certo falar em uma crise financeira varrendo os países emergentes", disse Julian Jessop, da Capital Economics.

Um desses países, a Turquia chegou a ver a sua moeda cair pela 11ª sessão seguida, antes de o BC local anunciar uma reunião de emergência para hoje "para tomar as medidas necessárias visando a estabilidade de preços" -um indicador de que vai subir os juros. O BC turco se reuniu na semana passada e deixou inalterada a taxa.

Sobre o aumento da taxa de juros nos países desenvolvidos, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que a estratégia é um "aspirador de pó" que vai sugar o dinheiro dos países emergentes.


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