Folha de S. Paulo


Inadimplência do consumidor recua pela 1º vez em 14 anos, segundo Serasa

Consumidores mais preocupados em pagar dívidas do que fazer novas compras e bancos mais rígidos na concessão de crédito ajudaram a reduzir o nível de inadimplência em 2013 após a piora dos últimos anos.

O indicador de dívidas em atraso calculado pela Serasa Experian, empresa de informações financeiras, terminou o ano em queda de 2% -a primeira retração anual desde que a medição começou, em 2000.

Um ciclo de crédito farto e medidas de incentivo ao consumo após a crise de 2008 tinham contribuído para um avanço da inadimplência. Em 2012, por exemplo, houve aumento de 15% do indicador.

Para reduzir perdas com devedores, os bancos mudaram. "Ficou mais difícil obter crédito porque as garantias exigidas aumentaram", diz o economista Manuel Enriquez Garcia, presidente da Ordem dos Economistas do Brasil.

O SPC Brasil, que também monitora os consumidores, já havia sinalizado uma melhora no cenário de calotes. Levantamento da empresa mostrou alta de 2,3% no ano passado, ante 12,18% em 2012.

CATEGORIAS

Em 2013, o volume de cheques devolvidos por falta de fundos recuou 9,4%, de acordo com a Serasa Experian. As dívidas nessa modalidade ficaram 8% mais caras: R$ 1.645,91, em média.

Houve melhora no nível de atrasos com dívidas não bancárias (com financeiras, lojas e prestadoras de serviços). O valor ficou menor no ano passado, em R$ 315, na média.

Já consumidores em atraso com os bancos tinham uma dívida média de R$ 1.310, valor semelhante ao de 2012.

PERSPECTIVAS

Para economistas ouvidos pela Folha, a tendência é que o crédito fique cada vez mais caro, pois o ciclo de aumento de juros do Banco Central ainda não acabou.

"Não há muitas evidencias de que a inflação possa cair abaixo de 6% de maneira significativa. Com isso, o BC vai continuar elevando os juros para conter o aumento de preços. Até porque a outra opção seria controlar o gasto público, algo que não vem ocorrendo", afirma Garcia.

Assim, a perspectiva é que a inadimplência se mantenha estável em 2014, diz.
Myrian Lund, planejadora financeira e professora da FGV, também acredita que os calotes continuem sob controle, mas não descarta aumento dos indicadores de inadimplência ao longo do ano.

"Com os juros altos, as pessoas podem ter mais dificuldade para pagar os empréstimos", afirma.

FINANÇAS

Para os inadimplentes, uma orientação é trocar as dívidas de juros mais altos, como cartão de crédito ou cheque especial, por outras com taxas menores.

"Quanto menor a taxa de juros, menor o custo desse capital. Não é o valor da parcela que deve ser considerado", diz o educador financeiro Elisson de Andrade.

Já quem ainda não pegou empréstimo deve ter cautela. "É preciso pensar: será que eu preciso fazer esse financiamento ou tomar esse empréstimo ou consigo fazer um caixa para depois pagar à vista? Muitos tomam crédito excessivamente para fazer compras que poderiam ser adiadas", afirma.

Vale a pena também trocar o empréstimo pelo pagamento à vista com desconto. "Tudo que é financiado fica mais caro. Os juros estão embutidos no empréstimo. Então a pessoa tem que fazer as contas para saber qual o tipo de desconto que pode pedir", diz Natan Finger, sócio-fundador da Private Pay.

Diante das incertezas econômicas é importante também não comprometer a renda com empréstimos longos, adverte. "Em algum momento o desemprego vai aumentar. Com isso, pode ser que o consumidor assuma uma parcela em um cenário de estabilidade menor no emprego", diz.


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