Folha de S. Paulo


Brasil fecha proposta automotiva para a União Europeia

O Brasil vai propor à União Europeia que a tarifa de importação para automóveis só seja eliminada dentro de 15 anos. Deve ser o prazo mais longo dentre os previstos na oferta brasileira para acordo de livre comércio entre o Mercosul e o bloco europeu, para eliminação de tarifas.

A oferta do Brasil prevê um período de carência de oito anos em que a alíquota de importação de 35% ficará inalterada. A tarifa começa a cair a partir do nono ano, chegando a zero no fim de 15 anos.

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Enquanto durar a carência, o Brasil vai oferecer uma cota de 35 mil automóveis que serão importados sem pagar imposto. Hoje, todos os carros importados da Europa pagam 35% de imposto.

O volume isento, no entanto, é pequeno comparado aos 542 mil carros importados em 2012 com tarifa zero.

O setor automotivo é um dos mais sensíveis do acordo com a Europa e deve ser alvo de barganha para que o Brasil consiga mais abertura para produtos agrícolas.

Com a economia estagnada, os europeus querem elevar suas exportações de carros para o Brasil, que somaram apenas 48 mil unidades no ano passado.

Já as montadoras instaladas no Brasil temem a alta competitividade das fábricas da Alemanha e até da Turquia, que deve se integrar à UE nos próximos anos.

Outros dois pontos importantes da oferta brasileira: caminhões devem ficar de fora, mantendo suas tarifas de importação, e um carro só será considerado europeu se 60% de suas peças forem fabricadas na Europa.

ISOLAMENTO

A negociação para um acordo de livre comércio com a Europa se tornou prioridade para o governo Dilma.

O Brasil corre o risco de ficar isolado pelos dois grandes blocos comerciais que estão sendo formados pelos Estados Unidos com a Europa e com a Ásia.

Mercosul e UE tentam retomar as negociações iniciadas em 2001. Os dois blocos tinham se comprometido a fazer a primeira troca de ofertas este mês, mas os europeus adiaram para janeiro.

Segundo a Folha apurou, a oferta atual teve as condições acertadas entre o governo Dilma e as montadoras instaladas no Brasil e é similar à última proposta entregue aos europeus, em 2005.

Um negociador do governo, sob a condição de anonimato, disse que apenas o prazo de 15 anos será apresentado aos europeus na primeira rodada de negociações. As demais "cartas" só serão colocadas na mesa ao longo da negociação e podem mudar.

ARGENTINA

Como a negociação é entre UE e Mercosul, o ideal é que Brasil e Argentina cheguem a uma oferta única. A proposta argentina, apresentada na semana retrasada, no entanto, já era um pouco mais tímida e, depois desse encontro, o governo informou às montadoras locais que serão obrigadas a reduzir importações em 27,5% em 2014.

Os negociadores brasileiros foram pegos de surpresa e ainda não sabem dizer qual será o impacto na negociação. Se não for possível fechar uma oferta do Mercosul, a tendência é que os países negociem sob o "guarda-chuva" do bloco, mas com ritmos de redução diferentes.


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