Folha de S. Paulo


Advogado defende o interesse de lobistas no Congresso

O advogado Caio Leonardo Bessa Rodrigues, 49, não tem amigos no Congresso e diz que perdeu contato com gente importante no governo. Não é o currículo esperado, mas, acredite, ele é o lobista dos lobistas.

Sua missão hoje é convencer deputados e senadores a disciplinarem a atuação dos "representantes governamentais" no Congresso.

Transparente, lobby vive seu apogeu nos EUA

É assim que se chamam os lobistas que só usam argumentos para defender interesses de empresas, associações e sindicatos.

Editoria de Arte/Folhapress

As conversas avançaram e há chances de que a atividade seja regulamentada no início do próximo ano.

"Não precisa de lei", disse. "Basta uma resolução na Câmara e outra, no Senado."

Para o advogado, as relações com o governo devem ter regras de conduta, como nos EUA, e não podem ser "pessoais". "Não levo ninguém para almoçar, não dou presente para parlamentar."

Rodrigues não é um estranho no ninho. Desde que a lei anticorrupção foi aprovada, em julho, cresceu o número de empresas -e de lobistas- preocupados em ter segurança e transparência nas relações com o governo.

Para o advogado, os projetos de lei existentes sobre o assunto tratam o lobby como uma atividade negativa, associada à corrupção.

QUANTO VALE

Cadeirante desde os 22 anos, devido a uma queda que o deixou paraplégico, Rodrigues já tinha atuado na defesa de direitos de deficientes, mas decidiu se dedicar ao lobby após uma temporada de estudos na London School of Economics, em 1999.

Um de seus casos mais relevantes foi conseguir a aprovação da lei que tornou obrigatório o airbag como item de fábrica dos veículos.

O projeto estava parado na Câmara por pressão das montadoras, que não queriam aumento de custos. Elas teriam de adaptar suas fábricas e importar os airbags.

"Defendemos o interesse de uma grande empresa que já tinha outras do setor de autopeças já preparadas para fabricar airbags no país", disse Rodrigues.

Para o lobby, só contou com um bom argumento. "Procuramos os líderes partidários que já tinham a preocupação com segurança de trânsito e dissemos que o Brasil ficaria fora dos padrões internacionais."

Na ocasião, a maioria dos 25 líderes se convenceu. "Mas diziam que havia um problema: a inexistência de fornecedores locais."

Para esse dificuldade, ele já tinha a solução. Seus clientes estavam prontos para começar a produção no país. Para não desagradar a indústria, o projeto, modificado por emendas, previu um prazo de adaptação até que todos os veículos passassem a ter airbag de fábrica. Seu cliente ganhou um novo mercado.

"Todo mundo sabia quem eu era, que interesses defendia. Jogo à luz do dia."

Hoje, seu escritório, MMK Advogados, atende 14 setores da economia em assuntos como aeroportos, comércio eletrônico, meio ambiente, marketing multifuncional, direitos de deficientes, entre outros. E, claro, a regulamentação da profissão de lobista.

Uma pesquisa feita em setembro com cerca de cem empresas, a pedido da Oxiteno, companhia química, revelou que o lobby é uma atividade relevante nas empresas.

"Antes, elas só sabiam das leis via Diário Oficial", diz Rodrigues. "Hoje, participam do processo [via escritório de representação]. Se a lei causa impacto negativo, é mais barato interferir antes. Depois, o custo é enorme."

Pedro Ladeira/Folhapress
O advogado Caio Leonardo em seu escritório em Brasília
O advogado Caio Leonardo em seu escritório em Brasília

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