Folha de S. Paulo


Trimestre ruim deve contaminar desempenho da economia em 2014

A economia desandou no terceiro trimestre -período marcado pela alta do dólar, pelas manifestações nas ruas, pelo descrédito com as contas do governo e pelo ocaso do empresário Eike Batista. E as consequências dessas más notícias serão mais visíveis em 2014, já que 2013 está praticamente fechado.

Ontem, após a divulgação de que o PIB contraiu-se 0,5% entre julho e setembro, economistas colocaram em revisão o crescimento do ano que vem para baixo de 2%.

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As previsões sugerem uma aposta crescente de que 2014 repetirá a frustração dos últimos dois anos. Após crescer 7,5% em 2010, o país registrou expansão de 2,7% em 2011 e de 1% no ano passado.

O desempenho faz com que o governo Dilma Rousseff registre um crescimento médio comparável ao de FHC, cujo governo foi marcado por sucessivas crises externas (México, Ásia, Rússia), que culminaram com o fim da cotação fixa do dólar, em 1999.

"Você tem essa agonia, essa morte lenta, de três anos de crescimento medíocre, e 2014 perfila para ser o quarto ano com crescimento abaixo de 3%", afirmou Alberto Ramos, economista
do Goldman Sachs.

"A economia não está em crise, há pleno emprego. Mas há um certo sentimento de que roubaram o futuro, de que poderíamos estar muito melhor, crescendo 4% ou 5% se o manejo macroeconômico fosse outro."

Para o Itaú Unibanco, a contração entre julho e setembro e os sinais moderados da economia neste quarto trimestre aumentam as chances de um crescimento abaixo de 1,9% em 2014.

O Bradesco estuda rever a expansão esperada de 2,1% para um intervalo entre 1,5% e 1,7%, mas só deve fechar o número hoje, com os dados da indústria de outubro. O Santander manteve a previsão de crescimento de 1,7%.

O motivo é que, com um ritmo de crescimento menor neste final de ano, 2014 começa com embalo menor e por isso deve crescer menos do que 2013, que começou em aceleração e perdeu fôlego.

Os economistas estão revendo a estimativa de crescimento para este ano de 2,5% para algo entre 2,2% e 2,3%.

"Alguma expansão tende a ocorrer no quarto trimestre deste ano, no entanto o ritmo deve ser moderado", afirmou o economista Aurélio Bicalho, do Itaú, em relatório.

Há riscos adicionais para o crescimento em 2014, como a aceleração da inflação com a progressiva alta do dólar. A moeda já subiu em razão do esperado fim dos estímulos nos EUA. Mas isso só deve se concretizar em 2014.

Outro fator que pode reduzir o crescimento é o possível rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de risco em decorrência da perda de credibilidade fiscal. A receita do governo se reduziu com as desonerações para reativar a economia, mas os resultados não apareceram.

O efeito prático foi a alta dos juros no mercado financeiro. As taxas dez anos à frente estão em 13% ao ano, o que já tornou mais caro o financiamento das empresas e ajuda a frear o crescimento. Com o rebaixamento, esse custo pode ser ainda maior.


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