Folha de S. Paulo


Empresários alertam para perda de confiança no Brasil

Com o título em letras garrafais: "Confiança é tudo!!!", o diretor estatutário e economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, fez uma apresentação nesta segunda-feira (2) onde traçou um cenário nada favorável do Brasil, e criticou os sucessivos desvio de conduta macroeconômica do país.

"É o país emergente onde se identifica baixíssima tolerância dos investidores por desvios de conduta macroeconômica", afirmou durante seminário sobre a reavaliação do risco Brasil 2013 na Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro).

Segundo ele, se houvesse mais confiança por parte dos investidores, não teria havido uma depreciação tão forte do real este ano, e o fluxo de capital para o país teria sido melhor. A percepção externa é de que o Brasil só avança superficialmente nas suas reformas, o que também vem prejudicando decisões de investimentos.

"É preciso melhorar a transparência na área fiscal", afirmou Barros. "Há uma ampla percepção de que o Brasil pode estar gerando passivos ocultos de difícil mensuração."

Ele lembrou que este ano a venda do campo de Libra, na bacia de Santos, e o Refis injetou R$ 35 bilhões nos cofres da União, o que amenizou o déficit fiscal. Mas disse que a grande preocupação agora é saber como o governo fará em 2014 para conseguir um volume de recursos semelhante.

"Só a conta-petróleo está roubando US$ 16 bilhões da balança comercial (diferença entre exportações e importações de petróleo)", afirmou, sobre o aumento de importações de derivados de petróleo que estão sendo feitas pela Petrobras, para atender o mercado interno.

DÚVIDAS

Fazendo coro com Barros, o ex-presidente da Vale e também ex-executivo do Bradesco Roger Agnelli chamou a atenção para a série de incertezas e indefinições macroeconômicas que o país está vivendo, "onde não se sabe mais se a meta de inflação é 4,5% ou 6%, se o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 0,9% ou 1,5% em 2012, se vai ter mais privatização no ano que vem", avaliou.

"Todo dia se leem notícias conflitantes, as regras vêm sendo sempre alteradas, na energia elétrica, no petróleo, isso freia a vinda de investimentos, porque todo mundo vai esperar o que vai acontecer antes de fazer qualquer coisa", explicou Agnelli.

Ele afirmou que o custo do capital tem afetado os investimentos no país em um momento em que o Brasil precisa urgentemente de recursos para criar infraestrutura, a fim de melhorar o sistema de importação e exportação.

Agnelli deu como exemplo um levantamento que fez para sua empresa, a qual investe em mineração no Brasil e outros lugares do mundo. "Um equipamento importado da China é 40% mais barato do que se for comprado no Brasil financiado pelo BNDES, o país está muito caro", avaliou.


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