Folha de S. Paulo


Eike ostenta o título de bilionário às avessas com patrimônio negativo em US$ 1,1 bi

Quatro meses atrás, Eike Batista, que sonhava em ser a pessoa mais rica da planeta, deixou de ser um homem de US$ 1 bilhão. Agora o empresário volta a ostentar o título de bilionário --às avessas.

Levantamento da agência americana Bloomberg (a mesma que em março de 2012 o apontava como o oitavo mais rico do planeta) mostra que o patrimônio de Eike é negativo: em US$ 1,1 bilhão.

O cálculo leva em conta os ativos de Eike (desde participação acionária em empresas até bens como casas). Porém, esses ativos estão cada vez mais diminutos, já que ele teve de reduzir sua fatia em várias de suas empresas e o valor delas não para de cair.

Um exemplo é a petroleira OGX. No auge, há dois anos, as ações valiam R$ 23,3. Hoje estão cotadas a R$ 0,16 --queda de 99,3%. A participação de Eike na empresa é de "meros" US$ 114 milhões.

O problema da OGX não é único, e a soma dos ativos do empresário vale US$ 2,4 bilhões. O problema, logo, está nos passivos, no caso as garantias pessoais dadas por Eike em troca de empréstimos (US$ 1 bilhão do BNDES em 2012, por exemplo).

Na conta da Bloomberg, o passivo de Eike é de cerca de US$ 3,5 bilhões, deixando no negativo o seu patrimônio.

O declínio de Eike não é único, mas impressiona, afinal sua fortuna um ano e meio atrás era avaliada em US$ 34,5 bilhões.

Um caso que lembra o do brasileiro é o do empresário japonês de telecomunicações Masayoshi Son, que, em 2000, tinha US$ 76 bilhões e, com o estouro da bolha da internet, viu a fortuna reduzida a US$ 1,1 bilhão.

O japonês, porém, nunca deixou de ser bilionário e hoje tem um patrimônio avaliado em US$ 15,1 bilhões --é o 60º mais rico do mundo.

ANOS DIFÍCEIS

Os cálculos da Bloomberg são um retrato do momento, e o cenário dos próximos anos não é promissor.

Pelas contas de assessores financeiros, caso os processos de recuperação judicial da empresa naval OSX e da OGX sejam bem-sucedidos, Eike ainda pode demorar até quatro anos para se livrar de seus credores pessoais.

Até lá, sua vida será buscar boas ofertas para o que ainda resta de seu patrimônio e saldar dívidas.

A expectativa é que, ao final do processo, restem a ele participações minoritárias na empresa de logística LLX, no porto do Sudeste, na mineradora MMX, na OGX e na OSX.

No caso das duas últimas, tudo depende de as companhias não quebrarem, o que levaria a um processo de execução de dívidas ainda difícil de calcular.

Se a OGX sobreviver à recuperação, ele deverá ficar com cerca de 15% da petroleira.

A fatia final de Eike na petroleira é fruto da estimativa de diluição da parcela atual (50%) e do quanto passaria a deter por meio da OSX, em que também é majoritário.

A empresa naval cobra dívidas da OGX pela rescisão de contratos e deve ter cerca de US$ 1,6 bilhão em débitos convertido em ações.

A fatia que Eike ainda possui na companhia de energia Eneva (ex-MPX) já tem destino: pagar compromissos com o Itaú, a quem ele deve cerca de US$ 900 milhões.

O empresário tenta passar a companhia de ouro AUX para o fundo Mubadala (de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes), a quem deve cerca de US$ 1,6 bilhão na sua holding EBX.

A ideia é que, se a operação for para a frente, possa reduzir boa parte desse valor.

A MMX está sendo fatiada e busca-se um sócio para as jazidas que restarão à empresa em Minas Gerais. Já a OSX tende a ser praticamente liquidada, reduzindo-se a uma pequena operação de reparo e construção de navios.

REDUÇÃO DO ROMBO

A dívida é grande, mas o buraco já foi pior: nos últimos meses, com a venda de parte da LLX para a americana EIG e do porto do Sudeste para a "trading" Trafigura e para o Mubadala, ele se livrou de US$ 1,3 bilhão em débitos, ao passar o aval dos empréstimos aos novos controladores.

Além da venda de ativos, Eike pretende usar os royalties do embarque do minério no porto do Sudeste para aliviar as obrigações com credores e, passada a turbulência, voltar a reunir patrimônio.

A expectativa é que essa operação renda, ao ano, mais de US$ 100 milhões ao empresário. Nada mal para qualquer mortal. Mas muito longe do objetivo de quem almejou ser o mais rico do mundo.

*

OS NÚMEROS DE EIKE BATISTA

US$ 34,5 bi
era a fortuna estimada do empresário um ano e meio atrás

US$ 2,4 bi
é a soma dos ativos de Eike, ou seja, quanto ele tem de participação nas empresas do grupo e bens como casas

US$ 3,5 bi
é a dívida aproximada de Eike Batista atualmente, a maioria para credores internacionais, segundo a agência Bloomberg

-US$ 1,1 bi
é o patrimônio de Eike, segundo a Bloomberg

R$ 0,16
é o valor da açãoda petroleira OGX atualmente. Há dois anos, os papéis da empresa --que está em recuperação judicial-- valiam R$ 23,27, queda de 99,3%


Endereço da página: