Folha de S. Paulo


Brasil cogita enviar oferta à União Europeia apenas com Uruguai e Paraguai

O governo brasileiro já tomou a decisão de que, caso nada mude nas próximas semanas, enviará uma oferta aos europeus para a criação de área de livre comércio apenas com o Uruguai e Paraguai. O modelo já vem, inclusive, sendo chamado de "Mercosul de três".

O prazo estabelecido para a troca de ofertas para a redução de tarifas de importação entre os dois blocos é dezembro e há um esforço mútuo para que isso aconteça antes do dia 25 do próximo mês.

Ainda se estuda uma saída política para acomodar a Argentina na rodada de negociações, mas sua participação --e a forma como ela pode se dar-- segue incerta.

O país vizinho finalmente apresentou sua proposta em reunião com representantes do Mercosul na sexta-feira (15) da semana passada em Caracas.

Apesar de o movimento ter sido visto com bons olhos --havia dúvidas se a Argentina chegaria a apresentar alguma lista--, a proposta não agradou em nada a delegação brasileira.

A avaliação é que, além de incompleta, a oferta da Argentina para os produtos que teriam a tarifa zerada é muito baixa, o que pode comprometer todo o acordo no momento da consolidação das propostas, apurou a Folha.

O clima pesou e os argentinos sequer ficaram até o final do encontro em Caracas.

Na atual etapa de negociação, cada país formula uma lista com os itens que entrariam no tratado de livre comércio e os prazos para as tarifas de importação serem zeradas.

A ideia de um acordo é justamente derrubar as barreiras para o comércio exterior entre os dois blocos, reduzindo os custos de importação e exportação para estimular as trocas.

A lista preparada pelo Brasil compreende cerca de 85% do comércio bilateral entre o bloco. O objetivo é tentar chegar perto dos 90% pedidos pelos europeus, mas, para isso, é preciso que todos os países partam de uma proposta base ambiciosa.

O governo irá trabalhar na união das listas, mas já antevê que, do jeito que a proposta argentina foi colocada até o momento, uma oferta com os quatro países é inviável para entrar em vigor no mesmo momento.

A Venezuela, que ainda se adequa às regras do Mercosul, já havia sinalizado há meses que não teria condições de participar da rodada, conforme antecipou a Folha.

O governo brasileiro ainda busca uma forma de colocar a Argentina na troca de ofertas. A ideia seria fazer uma proposta conjunta de Brasil, Uruguai e Paraguai, incluindo uma à parte da Argentina.

O Brasil sabe que dificilmente a disposição do país vizinho mudará de forma significativa num prazo tão curto, especialmente num momento de ajustes em sua equipe econômica.

Esta semana, a presidente Cristina Kirchner anunciou a renúncia do secretário de Comércio Interior, Guilherme Moreno, e a nomeação de Axel Kicillof como novo ministro da Economia.

Kicillof, que se torna o homem forte da economia argentina, prega a intervenção do Estado na economia e chegou a chamar de "palhaço" quem se opôs à estatização da petroleira YPF em 2012.


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