Folha de S. Paulo


Aécio diz que Dilma deu "boas-vindas" às privatizações

Provável adversário da presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) deu hoje as "boas-vindas" à petista no que chamou de "mundo das privatizações" --em referência ao leilão do pré-sal no campo de Libra. Da tribuna do Senado, Aécio disse que o leilão foi um "fracasso" e vai custar "muito caro" ao Brasil no futuro.

"Não seria favor algum o governo do PT poder orgulhar-se de dizer que fez a maior privatização de toda a história brasileira. Mas o fez com atraso, com enorme atraso, que custou muito caro ao Brasil", afirmou.

Aécio disse que a participação de apenas um consórcio no leilão mostra que a "joia da coroa" e o "bilhete premiado" do pré-sal agora pertence a empresas privadas. "Não contesto isso, era o caminho natural. Mas eu tenho que saudar desta tribuna a conversão tão rápida do PT às privatizações."

O tucano criticou a mudança do modelo de concessões do petróleo para o de partilha, o que segundo ele vai trazer prejuízos ao país. Aécio apresentou números para tentar comprovar que, entre 2007 e 2012, o país ficou "paralisado" no setor petrolífero.

"A propaganda oficial que certamente está vindo aí nos levará à conclusão de que foi o governo do PT que descobriu o pré-sal. Nada disso. Ele foi descoberto a partir dos investimentos e da administração profissional da Petrobras a partir do ano de 1997 e a partir da nova Lei de Petróleo, que possibilitou a parceria com inúmeros investidores estrangeiros."

O senador voltou a criticar a convocação de cadeia nacional de rádio e TV pela presidente Dilma, na noite de ontem, para comentar o leilão de Libra. "Tivemos uma grande e ufanista comemoração a que assistimos hoje, a meu ver, com mais uma abusiva convocação de cadeia de rádio e televisão pela senhora presidente da República, desvirtuando aquilo que prevê a Constituição Federal, nós temos é que lamentar o tempo perdido."

Aécio reuniu em peso senadores da oposição para acompanharem seu discurso no plenário, realizado um dia depois do leilão do pré-sal. Poucos governistas estavam no local no momento em que o tucano falou.

Aliado de Dilma, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) criticou o modelo de partilha adotado pelo governo no leilão. "O resultado desse leilão é uma indicação muito importante par ao governo de esse ser o primeiro e último a ser feito dentro desse regime de partilha. O governo deve ter coragem de reconhecer que a adoção do regime de partilha foi o maior erro de política energética feito neste século e foi um atraso enorme para o desenvolvimento do país", afirmou.

REAÇÃO

Líder do PT, o senador Wellington Dias (PI) subiu à tribuna para rebater Aécio depois que o tucano já havia deixado o plenário. O senador disse que, ao contrário do que afirma a oposição, o leilão do pré-sal foi um sucesso para o governo.

Dias afirmou que o modelo de privatização foi adotado na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e não pelo PT.

"A oposição é de privatização total. A nossa Petrobras entrou na berlinda daquelas empresas estatais, como a Telebras, a Embratel, na linha de foco das privatizações. Chegou até a se trabalhar um nome de Petrobrax e o objetivo era repassar essa importante estatal para o setor privado. Não foi graças à luta do povo brasileiro e a decisão de 2002 na eleição de Lula e suspender esse processo, que ia em direção aos bancos."

Em defesa do modelo de partilha, o petista afirmou que a mudança vai permitir ao governo manter o monopólio sobre o pré-sal. "Nós tínhamos um modelo que uma empresa ganha leilão, ela é dona do petróleo pagando 10% de royalties. Agora não. Uma empresa ganha leilão, o petróleo continua sendo brasileiro."


Endereço da página: