Folha de S. Paulo


Análise: Dinâmica dos preços de ações será sempre tema intrigante

No modelo "clássico" de formação de preços de ativos (como ações ou títulos do governo), conhecido como CAPM, o mundo é bastante simples. O preço de uma ação reflete exatamente o que os participantes acham que a empresa vale e o risco associado com a compra do papel. Além disso, todos têm acesso à mesma informação.

Se a ação estiver barata demais, como todos têm a mesma informação, mais gente a comprará, fazendo com que o preço volte a este valor ideal. O mesmo acontecerá se o papel estiver caro demais: muitos o venderão e o preço voltará ao normal.

Na prática, no entanto, mesmo intuitivamente, vemos que nem sempre esse mecanismo funciona perfeitamente. Se esse modelo estiver certo, como explicar as bolhas? Como explicar os altos preços das ações de algumas empresas logo antes de quebrarem?

Muitos economistas se dedicaram nas últimas décadas a tentar explicar o que rege os mercados de ativos. Os ganhadores do Nobel deste ano fizeram algumas contribuições muito importantes para este entendimento.

Shiller, por exemplo, mostrou que no curto prazo os preços de ações variam demais, bem mais do que seria esperado dentro do modelo acima.

Em prazos mais longos, porém, os preços convergem para padrões mais previsíveis. Ou seja, aparentemente os investidores se deixam levar por outros fatores, como emoções e preferências psicológicas, no dia a dia, mas a longo prazo tendem à racionalidade.

Já Fama mostrou que duas características das empresas ajudam a explicar o preço de suas ações: o tamanho e a relação entre valor de mercado da companhia e valor contábil.

Pelo modelo "clássico", essas duas variáveis não deveriam ter nenhum impacto no preço, mas os dados mostram que na prática isso acontece. É um "furo" na teoria, que pode ser explicado pela psicologia ou por decisões racionais mais complicadas do que se imaginava --ainda está em debate qual é a resposta certa para esta questão.

É muito difícil lidar estatisticamente com os dados de preços de ativos, como ações, por várias razões. Entre elas está o fato de que esses preços muitas vezes são correlacionados entre si (o preço de uma ação anda junto com o preço de outra) e no tempo (preços passados influenciam preços futuros).

Hansen criou um método estatístico conhecido com GMM que ajudou muito os economistas a lidarem com esse tipo de dado, permitindo testar muitas teorias contra os dados reais.

Economistas continuarão estudando para tentar entender o que rege o comportamento dos preços das ações. Enquanto isso, continua sendo bastante difícil prever para onde vai o papel de uma determinada empresa e ganhar dinheiro investindo em ações escolhidas a dedo. Isto é, desde que não haja informação privilegiada --mas aí é uma outra história.


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