O estudante de engenharia mecânica Thierry Cintra Marcondes, 25, fundador da Lux Sensor, encara os interlocutores fixamente em uma conversa. Surdo de nascença, ele tem cerca de 25% de audição, e precisa ler os lábios das pessoas com quem fala. "Se a pessoa olhar para o lado, eu não vou entender", explica.
A empresa dele, uma start-up (empresa iniciante de tecnologia) que tem pouco mais de um ano, foi a única representante brasileira em um desafio internacional de tecnologia promovido pela gigante Intel nesta semana em Berkeley (EUA). No mundo inteiro, foram 18 mil inscrições; na América Latina, mais de 1.000, e, no Brasil, 98.
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Da esq. para dir., Wellington de Souza, Thierry Marcondes e Welder Alves, sócios da Lux Sensor |
Marcondes aprendeu a ler lábios ainda criança, mas diz que, quando mais jovem, era muito tímido e tinha vergonha de se comunicar.
Em uma viagem ao Reino Unido, onde a mãe, professora de biologia da Unicamp, foi fazer pós-doutorado, decidiu que, mesmo com a dificuldade para entender o que as pessoas dizem, "a vida é muito curta para ser tímido".
No dia a dia de empreendedor, situações como apresentação em frente a uma plateia, conversas com investidores e busca por clientes não permitem timidez, e Marcondes toma a palavra sempre que tem oportunidade.
"Algumas empresas não usam videoconferência, outras não têm paciência. Também é difícil negociar em ambientes escuros ou com pessoas que não articulam bem as palavras. Nessas situações todas eu busco ser mais objetivo, mas tem sido bastante desafiador", conta.
EMPRESA
A Lux Sensor nasceu dentro da Unicamp --das cinco pessoas que estão hoje na empresa, quatro ainda estudam lá e uma já se formou.
No ano passado, eles se juntaram para participar de uma competição de alunos da universidade. E nesse tempo vieram desenvolvendo o protótipo do produto deles.
Trata-se de um sensor para verificar se a gasolina que está sendo colocada no carro foi adulterada.
Wellington de Souza, estudante de engenharia elétrica que está na equipe, diz que o problema de combustível adulterado é algo típico dos países em desenvolvimento e por isso eles pensaram em uma solução para isso.
Para o responsável pelo braço latino-americano do concurso, Fernando Martínez, a Lux Sensor tem potencial. E não economiza elogios à Marcondes: "Ele atingiu muito, apesar da dificuldade para ouvir. Não é nem um pouco tímido, é articulado, fala inglês e espanhol fluentemente. Eu o acho incrível".
VENCEDORES
Mas a boa vontade de Martínez não garantiu o prêmio à empresa brasileira.
O prêmio de US$ 50 mil foi para a chilena Mobile Monitoring Station. Ela desenvolveu uma jaqueta que vem acoplada com sensores para mensurar dados de saúde de mineradores e do ambiente de trabalho deles.
Segundo o diretor-executivo da empresa, Maurício Contreras, 28, há um problema sério de silicose entre os trabalhadores desse setor -partículas de poeira se alojam no pulmão das pessoas, que começam a ter problemas respiratórios.
Outro cofundador da empresa, Jorge Morales, 28, diz que o intuito da peça de roupa com sensores acoplados que enviam dados a um smartphone próximo é que os trabalhadores tenham vontade de usar.
Quem paga pelo produto, no entanto, não é quem usa a roupa, mas a empresa, que, pelo menos teoricamente, não quer que o funcionário tenha complicações de saúde decorrente do trabalho.
O jornalista FELIPE GUTIERREZ viajou a convite da Intel