Folha de S. Paulo


FMI prevê turbulências nos mercados de dívida e câmbio dos países emergentes

O Fundo Monetário Internacional afirmou que os fundamentos econômicos nos mercados emergentes pioraram nos últimos anos, após o que descreve como uma "expansão de crédito tardia", e prevê turbulências nos mercados de dívida e câmbio destes países em um cenário global de transição.

"A liquidez se deteriorou e as vulnerabilidades aumentaram, expondo mais esses mercados a pressões externas", afirmou em entrevista coletiva transmitida pela internet José Viñals, diretor do Departamento Monetário e de Mercado de Capitais do FMI.

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"Este é exatamente o caso do Brasil", afirmou Matthew Jones, conselheiro do mesmo departamento. "O Brasil se beneficiou desses fluxos de capital, mas ao mesmo tempo os fundamentos da economia se enfraqueceram."

Mas o Fundo elogiou a condução da política econômica brasileira --inclusive as intervenções do Banco Central no Câmbio-- e considera o pais preparado para um cenário mais adverso.

"Se olharmos o que ocorreu no Brasil nos últimos meses, a taxa de câmbio flutuou para absorver o impacto, e algumas medidas foram tomadas para fortalecer a liquidez no mercado de câmbio", disse Jones.

"Achamos que o Brasil está pronto para enfrentar esses desafios. As respostas em termos de política econômica foram apropriadas."

As ponderações foram feitas na manhã desta quarta-feira (9) com a publicação do relatório sobre a estabilidade financeira mundial compilado anualmente pela entidade multilateral sediada em Washington.

BRASIL E EMERGENTES

Ontem, o Fundo anunciara novo corte nas projeções de crescimento global, revendo a taxa de crescimento do Brasil no próximo ano para 2,5%, menos da metade da taxa média dos emergentes (5,1%), mas ainda acima da expectativa média dos analistas e economistas brasileiros ouvidos pelo relatório Focus, do Banco Central (2,2%).

Os riscos ainda persistem nos EUA, onde a injeção de estímulos econômicos aplicada mensalmente pelo Federal Reserve (BC americano) deve ser interrompida em breve, com ameaça de contágio global, e na Europa, avalia o FMI.

No primeiro caso, Viñals recomendou que a comunicação sobre o término da política de incentivos seja feita de forma clara, sem maiores surpresas para o mercado e os responsáveis pela política monetária nos demais países --o que não tem acontecido até agora-- e que haja ênfase na regulamentação e monitoramento dos mercados secundários.

O economista também criticou a paralisia do governo americano, sem acordo para aprovar o Orçamento do atual ano fiscal, e alertou para a possibilidade de calote do país caso o Congresso local não chegue a um consenso sobre autorizar o governo federal a contrair mais empréstimos. "É um risco muito pequeno, mas com consequências muito graves."

Já as reformas implementadas na zona do euro começam a surtir efeito, mas o nível de endividamento das empresas nos países periféricos como Espanha, Portugal e Itália ainda preocupa o Fundo.

O FMI também vê riscos na política econômica japonesa de estímulos, que ficou conhecida como "Abenomics" (por causa do premiê Shinzo Abe).

Embora a entidade evite criticar as medidas em si, lembra que ainda que seja bem-vinda a premissa de reavivar uma economia deflacionária, ela precisa vir acompanhada das reformas fiscais e estruturais prometidas para não agravar o quadro de estagnação.

Para a China, a recomendação segue sendo a expansão de crédito para equilibrar financeiramente a economia, mas o Fundo nota também que cresceu o risco das dívidas corporativas devido à crença latente de que o governo socorrerá em caso de quebra.

O sistema financeiro paralelo do país (agiotagem), desregulamentado, continua a ser uma preocupação com potencial riscos globais.


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