Folha de S. Paulo


Renda dos trabalhadores cresce de forma desigual entre as regiões

Apesar de um fraco crescimento econômico, o rendimento real (descontada a inflação) do trabalho no Brasil cresceu num ritmo forte em 2012, a 5,8%. Esse avanço, porém, ocorreu de forma desigual entre as regiões em um cenário de carência de mão de obra qualificada e de expansão dos setores de comércio e de serviços.

No Sudeste e no Sul, regiões mais desenvolvidas do país, a renda cresceu 6% e 5,8%, respectivamente, em linha com a média geral. Para os 10% mais pobres nesses locais, o crescimento foi de 9,8% e 10,6%, um pouco menor do que os contabilizados para o 1% mais rico --11,8% e 15,8%. Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2012.

Tal fenômeno ocorreu de modo mais intenso no Nordeste, a região mais pobre do país. O rendimento dos nordestinos subiu 8,1%, em média. Mas, entre o 1% mais rico, a alta foi de 20,7%, e, na faixa dos 10% maiores rendimentos, houve aumento de 10,4%.

Já os 10% mais pobres, porém, experimentaram uma expansão de renda de apenas 1,9%. A remuneração dessa faixa foi de apenas R$ 107, o que corresponde a 10,2% da renda média da região (R$ 1.044), a mais baixa do país.

No Norte e no Centro-Oeste, as duas regiões menos populosas (e, portanto, com menor peso na composição do índice nacional), ocorreu o contrário: os trabalhadores que compõem a faixa do 1% mais rico tiveram perdas, de 10,6% e 3,2%, respectivamente. Já entre os 10% mais pobres, o crescimento superou a média geral das regiões (2,1% e 4,8%, nessa ordem).

Ao analisar os dados do país como um todo, Maria Lúcia Vieira, gerente do IBGE, afirma que o aumento da renda do trabalho em 2012 foi superior a de outros períodos influenciado pela maior expansão dos ganhos dos mais ricos. "Ocorreu um forte crescimento na faixa dos que têm maior renda, elevando o percentual médio."

Uma das explicações para o aumento maior da renda entre os mais ricos no Brasil é a restrição de mão de obra qualificada. Mais empresas buscam profissionais especializados, há uma disputa por "talentos" e isso gera um ganho para quem já está no topo dos salários.

"Além disso, em um cenário de inflação elevada, os trabalhadores mais qualificados têm maior poder de barganha nas negociações salariais", diz Gabriel Ulyssea, especialista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Ulyssea avalia que o desempenho positivo do mercado de trabalho em meio a um baixo crescimento da economia --o PIB teve alta de 0,9%--, ocorre sob a influência dos setores de serviços e comércio.

"[Esses setores] são intensivos em mão de obra e muito vinculados ao consumo das famílias", diz. "Por mais que o PIB não cresça a taxas exuberantes, o consumo das famílias se manteve em 2012, o que movimentou o mercado de trabalho."

Na opinião de João Saboia, professor de economia da UFRJ, os dados de mercado de trabalho da pesquisa são positivos, com alta expressiva da renda e queda do desemprego em 2012. O economista ressalta que, em 2013, já há uma desaceleração em curso. "Ele [o mercado de trabalho] não vem melhorando no ritmo que vinha antes. Também isso não pode acontecer numa economia que vem há três anos crescendo pouco."

METODOLOGIA

Pelos dados da Pnad, o 1% mais rico, extrato que o IBGE destaca como o topo da renda e privilegia em suas comparações, concentrava 12,5% de toda a renda do trabalho em 2012. Os 10% mais ricos, por sua vez, abocanhavam 41,5% da renda. Já os 10% mais pobres representavam apenas 1,4% dos ganhos --ou seja, uma alta do rendimento do 1% mais rico, dono de uma fatia mais larga da renda geral, puxa a alta do rendimento médio em toda a pirâmide.

Diante da forte concentração de renda no país, a melhor comparação é entre o 1% mais rico e os 10% mais pobres. Ainda assim, segundo o instituto, o recorte do 1% dos maiores rendimentos é estatisticamente confiável e não sofre com eventuais problemas de amostra.

Conceito mais amplo de rendimento, a renda domiciliar per capita (que inclui não só a remuneração do trabalho, mas também ganhos em aplicações financeiras e com aluguéis de imóveis, aposentadorias, transferência de renda do governo e outros benefícios) teve um avanço maior em 2012: 8%.


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