Folha de S. Paulo


Crise do grupo X afetou a reputação brasileira e a imagem do país, afirma Guido Mantega

O ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que a crise das empresas do grupo X, do empresário Eike Batista, atrapalha o desempenho da economia brasileira e --que isso arranhou a "nossa reputação".

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"A situação da OGX já causou um problema para a imagem do país e para a Bolsa da Valores que já teve uma deterioração de 10% por conta dessas empresas", disse ele.

Segundo assessoria do ministro, Mantega se refere a cálculos de consultorias do mercado de que, da queda que o Ibovespa sofreu este ano, cerca de 10% se refere ao peso das empresas X -- o índice acumula baixa de cerca de 14% este ano.

A declaração foi feita em evento na FGV (Fundação Getulio Vargas), em São Paulo, para discutir o crescimento do país.

"Isso [a crise do grupo X] continua atrapalhando o desempenho da economia brasileira, que na Bolsa é muito boa. Mas claro que você pode ter uma empresa que não tenha desempenho suficiente e nos atrapalhe", disse.

"É uma solução de mercado. Espero que eles consigam se ajeitar o mais rápido possível", disse Mantega.

Desde o final do ano passado, as empresas de Eike enfrentam crise de credibilidade do mercado e perda no valor das ações. Depois de bater recordes de captação na Bolsa, a principal operação da OGX no campo de Tubarão Azul foi revista e a meta de produzir 50 mil barris diários foi deixada de lado.

Aliado a isso, a crise também contou com problemas na transparência da situação do grupo, e demora em avisar ao mercado da realidade.

No evento, Mantega também afirmou que já tem indicações de melhoria da economia brasileira e que, com o resultado do último trimestre, existe a possibilidade do crescimento do PIB ser maior do que a previsão atual de 2,5%.

NOVA YORK

Na semana passada, em um seminário para investidores em Nova York, o ministro já havia feito um discurso parecido. Na ocasião, Mantega afirmou que a solução para a petroleira OGX, de Eike Batista não é problema do governo e que a deterioração da empresa afetou muito a Bolsa do Brasil, que teria tido um desempenho abaixo do esperado por causa do grupo.

"Afetou muito a Bolsa brasileira. Aliás a Bolsa teve desempenho nos últimos meses abaixo do que poderia ser, em função desse grupo. Cerca de 10% a menos de valorização da Bolsa e eu espero que grupo se reestruture o mais breve possível para não atrapalhar as atividades do mercado de capitais", disse ele, na semana passada.

"É um grupo privado. Não tem uma ligação com o governo e, portanto, a solução da OGX é de mercado. É o mercado quem tem de dizer quando o grupo vai ser saneado e quando vai deixar de causar problemas para o mercado de capitais."

CALOTE

A OGX e a companhia de construção naval OSX, também do empresário Eike Batista, entrarão com pedidos de recuperação judicial nas próximas duas semanas, segundo a revista "Veja" afirmou neste sábado, sem citar fontes.

Segundo a Folha antecipou no último sábado, as negociações com os credores da OGX estão complicadas e a empresa caminha rapidamente para a recuperação judicial.

A recuperação judicial depende só da conversa com a malasiana Petronas, que havia se comprometido a comprar uma fatia em um campo de petróleo, mas desistiu.

A OGX já vem, inclusive, procurando bancos em busca de linhas de crédito específicas para empresas em recuperação judicial.

As ações da OGX e da OSX recuaram para patamares mínimos na sexta-feira por temores de que a petroleira, incapaz de cumprir suas metas de produção de petróleo, fique sem dinheiro em breve.

Investidores temem que a OGX não pague à OSX pelo uso de uma embarcação usada como garantia para um bônus emitido pela companhia de construção naval. Se ocorrer um calote da OGX, a OSX pode ser obrigada a retomar a embarcação.

A OGX já havia decidido dar um calote de US$ 45 milhões de dólares referentes à remuneração desses títulos.

Eike trocou os negociadores no final da última semana e pode alterar pontos relevantes da proposta de reestruturação da dívida, o que estressou ainda mais a relação com os credores, que inclui fundos como Pimco e BlackRock.

A petroleira de Eike só tem caixa até o fim de outubro e, por isso, não vai pagar os US$ 45 milhões de remuneração dos títulos.

A OGX deve US$ 3,6 bilhões em títulos no exterior e US$ 900 milhões à OSX, referentes a indenização pelo cancelamento das encomendas de plataformas de petróleo.

O problema é que os ativos da empresa não valem as dívidas, o que já significa um forte calote aos credores. No fim do processo, os credores teriam 80% da OGX, enquanto Eike, o principal acionista da OSX, ficaria com 20%.

Segundo a Folha apurou, o empresário quer considerar só 25% do valor da dívida dos credores na hora da conversão em ações, porque o bônus já está sendo negociado a esse valor. Nesse caso, Eike teria uma fatia maior da empresa no fim do processo.


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